O rei português D. João V se empenhou em resolver a
questão da demarcação de terras valendo-se do suporte da ciência de sua época.
Nesse sentido mandou vir astrônomos do estrangeiro da Itália, Alemanha e Suíça,
encomendou “instrumentos matemáticos”, fundou um observatório astronômico para
observação dos satélites de Júpiter enviou em 1729 uma missão de “padres matemáticos”
ao Brasil para elaborarem uma nova carta de latitudes e longitudes na colônia
de Sacramento. Todo esse aparelhamento custava caro, o novo sextante de Bion,
por exemplo, custara seis mil cruzados.[1] A
Comissão era formada pelos jesuítas Giovanni Baptista Carbone e Domenico
Capacci (ou Domingos Capassi)[2]. Os
padres chegaram ao Rio de Janeiro em 1730 onde instalaram seu observatório no
Colégio da Companhia sobre o morro do Castelo onde puderam fazer o levantamento
topográfico da cidade e da Baia de Guanabara em relação ao meridiano de Paris,
sendo a primeira representação exata da Baía de Guanabara.[3] Nas
observações astronômicas pode contar com suporte do também jesuíta matemático
astrônomo Diogo Soares para as primeiras medidas de latitude e longitude do
sertão.[4] Por
outro lado, já era de conhecimento que áreas como Cuiabá e do Amazonas,
excediam em muito a linha imaginária demarcatória prevista no Tratado de
Tordesilhas.[5] Segundo Jaime Cortesão não faltam provas documentais de que a missão dos padres
matemáticos era a fazer o levantamento topográfico em relação ao meridiano de
Tordesilhas mantendo tais medições em sigilo, para que pudessem ser
apresentadas em momento oportuno quando na negociação dos acordos de fronteira.[6] Jaime
Cortesão observa que a preparação deste empreendimento científico envolveu a
contratação de cartógrafos e engenheiros, tais como bem como o astrônomo cartógrafo jesuíta padre
Domingos Capacci, o engenheiro Frederico Jacob Weinholtz, o engenheiro e
cartógrafo frei francês Estevão de Loreto, o engenheiro militar húngaro Carlos
Mardel, o coronel engenheiro genovês Miguel Angelo Blasco entre outros. [7] Esta
teria sido, segundo Jaime Cortesão, a primeira expedição geográfica e
cartográfica enviada às Américas por uma nação europeia com um objetivo de
Estado tendo em vista a delimitação da soberania política entre os domínios de
nações conflitantes.[8] Para
Jaime Cortesão os avanços na cartografia no século XVIII tendo como um dos
destaques Azevedo Fortes abrem uma nova era na cultura expansionista portuguesa
da mesma forma que no século XV a ciência náutica abriu caminho para a era das
grandes navegações.[9] Jaime Cortesão destaca o papel ilustrado de Alexandre de Gusmão (na figura) em considerar a
ciência dos conhecimentos geográficos e históricos como fundamento para a
política, colocando no centro das ações a ciência tal como posteriormente fisiocratas
franceses e enciclopedistas franceses, tais como Montesquieu , Turgot e Quesnay
fariam alguns anos após: “torna-se necessário situar esse conceito na
história das ideias durante o século XVIII para nos darmos conta de quanto ele
é novo e contém em si germes revolucionários”.[10]
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