quarta-feira, 30 de junho de 2021

Preço dos escravos e produtividade

 

Submetidos a um regime de terras que oneravam o colono imigrante com pesados impostos não havia, contudo, estímulo para ganhos de produtividade. Para José Vergueiro “como meros participantes dos proventos, e a parte do proprietário era um intolerável tributo sobre o trabalhador, que lhe tira a esperança de qualquer melhoria”.[1] Nos cálculos de José Vergueiro o capital empregado na compra de cem escravos equivaleria a pagar 1666 trabalhadores livres por um ano.[2] Manolo Florentino, contudo, mostra dado do Rio de Janeiro do século XIX que mostram que quase todos os homens livres inventariados na pesquisa tinham ao menos a propriedade de um escravo, o que revelava que os africanos eram mercadorias baratas. Manolo Florentino estima entre 200$000 (duzentos mil) reis e 380$000 o preço de cada escravo no Rio de Janeiro no início do século XIX muito embora os jornais indiquem 250$000 chegando a 539$000 em 1825.[3] No oeste paulista Warren Dean estima em 550 mil reis o preço médio de um escravo em 1845 chegando a 2 contos de reis (dois milhões de reis) em 1875 para seguir uma queda para 920 mil reis em 1885 à medida em que torna-se mais clara a iminência do fim da escravidão.[4] Com o fim do tráfico atlântico de escravos pela Lei Eusébio de Queiroz de 1850 o preço dos escravos disparou.[5] Guilherme Resende mostra que os preços dos escravos têm um auge no período 1851–1872, sendo menores em 1873–87 e mais ainda em 1800–1850. O aumento em 1851–1872 pode estar refletindo tanto um crescimento de produtividade (diante da alta do preço do açúcar no mercado internacional na década de 1850 e o boom do algodão durante a guerra de secessão dos Estados Unidos), quanto a restrição de oferta causada pela cessação do tráfico africano. No período 1873–1887, Guilherme Resende considera que os preços tenham sido influenciados negativamente pela perspectiva da abolição e pela virtual cessação do tráfico interno de escravos após 1880 na medida em que as províncias cafeeiras impuseram taxas proibitivas sobre esse comércio interno. Guilherme Resende conclui: “De forma geral, os resultados confirmam a hipótese de que os preços dos escravos se relacionam diretamente com a produtividade do trabalho cativo e, portanto, a demanda por escravos tem como base, no Brasil do século XIX, a busca de maximização de lucro, a exemplo do que a literatura especializada apontou para os casos norte-americano e caribenho”.



[1] STEIN, Stanley. Grandeza e decadência do café, São Paulo:Brasiliense, 1957, p. 72

[2] TOLEDO, Roberto Pompeu de. A capital da solidão, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 430

[3] FLORENTINO, Manolo. Em costas negras, São Paulo: UNESP, 2014, p. 77, 151, 168, 171, 177

[4] CARVALHO, José Murilo. A construção nacional 1830-1889, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 208

[5] NARLOCH, Leandro. Escravos. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2017. p.19; Preços de escravos e produtividade do trabalho cativo: Pernambuco e Rio Grande do Sul século XIX. Guilherme Resende, Flávio Rabelo Versiani, Luiz Paulo Ferreira Nogueról and José Raimundo Oliveira Vergolino, Anais do XLI Encontro Nacional de Economia [Proceedings of the 41st Brazilian Economics Meeting] from ANPEC - Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia [Brazilian Association of Graduate Programs in Economics], 2014 https://www.anpec.org.br/encontro/2013/files_I/i3-5e92f33f630bb2a13bbc28e70f1ebe2f.doc



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