Submetidos a um regime de terras que oneravam o colono
imigrante com pesados impostos não havia, contudo, estímulo para ganhos de
produtividade. Para José Vergueiro “como
meros participantes dos proventos, e a parte do proprietário era um intolerável
tributo sobre o trabalhador, que lhe tira a esperança de qualquer melhoria”.[1] Nos
cálculos de José Vergueiro o capital empregado na compra de cem escravos
equivaleria a pagar 1666 trabalhadores livres por um ano.[2] Manolo
Florentino, contudo, mostra dado do Rio de Janeiro do século XIX que mostram
que quase todos os homens livres inventariados na pesquisa tinham ao menos a
propriedade de um escravo, o que revelava que os africanos eram mercadorias
baratas. Manolo Florentino estima entre 200$000 (duzentos mil) reis e 380$000 o
preço de cada escravo no Rio de Janeiro no início do século XIX muito embora os
jornais indiquem 250$000 chegando a 539$000 em 1825.[3] No oeste
paulista Warren Dean estima em 550 mil reis o preço médio de um escravo em 1845
chegando a 2 contos de reis (dois milhões de reis) em 1875 para seguir uma
queda para 920 mil reis em 1885 à medida em que torna-se mais clara a iminência
do fim da escravidão.[4] Com o
fim do tráfico atlântico de escravos pela Lei Eusébio de Queiroz de 1850 o
preço dos escravos disparou.[5] Guilherme
Resende mostra que os preços dos escravos têm um auge no período 1851–1872,
sendo menores em 1873–87 e mais ainda em 1800–1850. O aumento em 1851–1872 pode
estar refletindo tanto um crescimento de produtividade (diante da alta do preço
do açúcar no mercado internacional na década de 1850 e o boom do algodão durante
a guerra de secessão dos Estados Unidos), quanto a restrição de oferta causada
pela cessação do tráfico africano. No período 1873–1887, Guilherme Resende considera
que os preços tenham sido influenciados negativamente pela perspectiva da
abolição e pela virtual cessação do tráfico interno de escravos após 1880 na
medida em que as províncias cafeeiras impuseram taxas proibitivas sobre esse
comércio interno. Guilherme Resende conclui: “De forma geral, os resultados
confirmam a hipótese de que os preços dos escravos se relacionam diretamente
com a produtividade do trabalho cativo e, portanto, a demanda por escravos tem
como base, no Brasil do século XIX, a busca de maximização de lucro, a exemplo
do que a literatura especializada apontou para os casos norte-americano e
caribenho”.
[1] STEIN, Stanley.
Grandeza e decadência do café, São Paulo:Brasiliense, 1957, p. 72
[2] TOLEDO, Roberto Pompeu
de. A capital da solidão, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 430
[3] FLORENTINO, Manolo. Em
costas negras, São Paulo: UNESP, 2014, p. 77, 151, 168, 171, 177
[4] CARVALHO, José Murilo.
A construção nacional 1830-1889, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 208
[5] NARLOCH, Leandro. Escravos. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2017. p.19; Preços
de escravos e produtividade do trabalho cativo: Pernambuco e Rio Grande do Sul
século XIX. Guilherme Resende, Flávio Rabelo Versiani, Luiz Paulo Ferreira
Nogueról and José Raimundo Oliveira Vergolino, Anais do XLI Encontro Nacional
de Economia [Proceedings of the 41st Brazilian Economics Meeting] from ANPEC -
Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia [Brazilian
Association of Graduate Programs in Economics], 2014 https://www.anpec.org.br/encontro/2013/files_I/i3-5e92f33f630bb2a13bbc28e70f1ebe2f.doc
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