quarta-feira, 30 de junho de 2021

Tráfico de escravos com os reinos de Benim e Daomé

 

Os portugueses mantinham relações com os governos locais africanos para o comércio de escravos. Um embaixador de Benim foi a Portugal em 1484 sendo recebido com pompa segundo o cronista Rui Pina “Era esse embaixador homem de bom repouso e natural saber, foram-lhe feitas grandes festas e mostradas muitas coisas boas deste reino”, muito embora o império de Benim nunca tenha se transformado em grande exportador de escravos.[1] Jacob Gorender mostra que o Estado de Daomé na área do atual Benim (o grande império de Benim da época colonial fica na atual Nigéria) surgiu por conta do desenvolvimento do comércio negreiro no século XVII fundado no monopólio estatal.[2] A região litorânea em torno de Daomé era conhecida pelos europeus, o nome de Costa dos Escravos. Foi do Porto de Uidá, o mais importante porto negreiro da África Ocidental, que saiu mais de um milhão de escravos desde o século XVII. A partir de aliança políticas e comerciais e militar com as autoridades nativas africanas os portugueses trocavam manufaturados europeus ou tabaco e aguardente vindos da América por cativos capturados em constantes guerras tribais[3]. Na medida em que a comércio intenso de escravos se desenvolve, intensifica-se cada vez mais as guerras intestinas na África para dar conta da demanda por novos escravos.[4] O escravismo doméstico tradicional cede lugar para as formas mercantis de escravidão.[5] A conquista de Uidá, Ajudá ou Ouidah porto pelo reino escravagista e expansionista do Daomé, em 1727, viria a confirmar sua posição inicial de principal porto do tráfico negreiro na região, situação que manteve, até meados do século XIX.[6] A fortaleza de São João Batista  de Ajudá construída pelos portugueses hoje abriga o Museu de História da Ajudá. No Museu Nacional do Rio de Janeiro havia um zinkpo (na figura), também chamado trono real de Daomé, dado de presente por embaixadores do rei Adandozan ao príncipe D. João em 1810 o que mostra as boas relações dos dois reinos.[7] Um grande traficante de escravos em Daomé foi Francisco Felix de Souza, o Chachá, nascido na Bahia, a figura central do tráfico transatlântico de escravo. [8] Pierre Verger em seu livro “Os escravos” relata o caso do traficante de escravos Joaquim d’Almeida em Daomé que havia sido no passado escravo na Bahia quando então tinha o nome de Gbego Sokpa. Outro traficante de escravos que também havia sido escravo é João de Oliveira que fundou dois entrepostos na Costa dos Escravos em Porto Novo no Benim e outro em Lagos. O negro brasileiro Antonio Vaz Coelho no século XVIII também se tornou traficante de escravos em Porto Novo. José Francisco dos Santos, o Zé Alfaiate era escravo na Bahia e tornou-se um dos últimos traficantes do porto de Ajuda no Daomé.[9] A comunidade dos agudás reunia os ex escravos que retornaram do Brasil.[10]

[1] NARLOCH, Leandro. Escravos. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2017. p.75

[2] FLORENTINO, Manolo. Em costas negras, São Paulo: UNESP, 2014, p. 76

[3] FLORENTINO, Manolo. Em costas negras, São Paulo: UNESP, 2014, p. 87

[4] FLORENTINO, Manolo. Em costas negras, São Paulo: UNESP, 2014, p. 90, 100

[5] FLORENTINO, Manolo. Em costas negras, São Paulo: UNESP, 2014, p. 102

[6] SILVA. Marinelia Sousa da. Movimentos na História: Notas sobre a Historiografia da Costa dos Escravos, Sankofa. Revista de História da África e de Estudos da Diáspora Africana Ano III, Nº 5, julho/2010

[7] Blog: Ensinar História - Joelza Ester Domingues https://ensinarhistoriajoelza.com.br/francisco-felix-de-souza-traficante-de-escravos/

[8] NARLOCH, Leandro. Escravos. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2017. p.89; LAW, Robin. A carreira de Francisco Félix de Souza na África Ocidental (1800-1849). Topoi 2001, vol.2, n.2, pp.9-40. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2237-101X2001000100009&lng=en&nrm=iso

[9] NARLOCH, Leandro. Escravos. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2017. p.81

[10] NARLOCH, Leandro. Escravos. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2017. p.18, 77



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