sexta-feira, 25 de junho de 2021

A pólis grega

 

Sob a democracia ateniense grega do século V a.c. o Estado não conhece famílias mas unicamente indivíduos de mesmo valor, princípio que se opõe ao regime oligárquico.[1] Na pólis grega a ágora, o mercado de Atenas, a se estabelece como espaço democrático, espaço de sociabilidade urbana e que inclui também o comércio de produtos diversos.[2] Aristóteles dirá que o homem é um animal político “que vive na pólis”, o seja, a polis e não o núcleo familiar é o cerne da civilização grega.[3] Donald Kagan mostra que a polis grega se diferencia de outras cidades Estado da antiguidade pelo fato de que no caso grego o indivíduo vivia em função da polis. Norberto Guarinello destaca que “dentre as formas de organização social que surgiram nesse período, no entanto, as pólis foram o elemento mais dinâmico. Não representaram apenas um processo de urbanização, mas também uma completa reestruturação das relações entre os habitantes de uma região determinada, que passaram a agir em conjunto, a tomar decisões políticas, nas praças ou nos conselhos, e eleger seu comandantes. E isso, tanto para resolver seus conflitos internos quanto para agir com ou contra os estrangeiros. Dessa relação de unidade surgiu o conceito de cidadania e a separação entre cidadãos e não cidadãos”. [4] Heródoto se refere a uma pergunta que Creso fez a Sólon sobre quem seria a pessoa mais feliz que ele já conheceu. E Sólon responde: Telus de Atenas, um cidadão grego desconhecido. Três as razões apresentadas: porque a polis de Telus prosperava, porque os filhos de Telus prosperavam (garantindo a imortalidade dos princípios de Telus) e porque Telus morreu em combate lutando por sua polis.[5] O ideal grego é que o Estado grego tinha como meta fazer homens bons e a polis tinha um papel fundamental nesse processo ao formar cidadãos e não súditos[6]. Tucídides reproduz o discurso feito no funeral de Péricles em 431 a.c em que destaca que as maiores metas individuais de cada cidadão e de sua família somente poderão ser alcançadas através da polis. O bem estar individual está intrinsecamente ligado ao bem estar da polis. Gustave Glotz mostra que a história das instituições gregas tem como primeiro período uma fase em que a cidade é composta de famílias em que todos os membros são submetidos aos interesses da coletividade. [7] Segundo Donald Kagan: “A pessoa não pode se realizar como ser humano sem ser um cidadão ativo e leal dessa grande comunidade de que você precisa para alcançar seus objetivos na vida”. Jean Vernant mostra que a polis desenvolveu o conceito de plena publicidade: “pode-se mesmo dizer que a polis existe apenas na medida em que se distinguiu um domínio público, nos dois sentidos diferentes, mas solidários no termo: um setor de interesse comum, opondo-se aos assuntos privados; práticas abertas, estabelecidas em pleno dia, opondo-se a processos secretos”.



[1] GLOTZ, Gustave. A cidade grega. São Paulo:DIFEL, 1980, p.108

[2] MUMFORD, Lewis. A cidade na história, São Paulo:Martins Fontes, 1982, p. 168

[3] FUNARI, Pedro. Grécia e Roma, São Paulo:Contexto, 2004, p.49

[4] GUARINELLO, Norberto Luiz. História Antiga. São Paulo: Contexto, 2020, p.89

[5] História da Grécia Antiga #5 com Donald Kagan, de Yale, 9:00 https://www.youtube.com/watch?v=UCBmCNnQULU

[6] História da Grécia Antiga #5 com Donald Kagan, de Yale, 22:00

[7] GLOTZ, Gustave. A cidade grega. São Paulo:DIFEL, 1980, p.6



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