Norberto Guarinello aponta a difusão do artesanato e a divisão do trabalho artesanal com a criação de oficinas estáveis foi um dos fatores de fortalecimento das cidades estado gregas.[1] Moses Finley, por sua vez, mostra que os cidadãos gregos eram na maior parte camponeses sendo que o artesanato e o comércio exercido principalmente por estrangeiros domiciliados em Atenas, conhecidos como metecos[2]. Dos metecos e libertos apesar do tratamento discriminatório que sofriam é de onde se conheciam grandes médicos, engenheiros e artistas.[3] Em República dos atenienses de pseudo Xenofonte ele se refere a igualdade social na Atenas Clássica entre os escravos e metecos: “Se se estranha ver os escravos levando uma boa vida e alguns mesmo conhecendo uma existência suntuosa, pode-se observar que existe um propósito deliberado para permitir que isto aconteça. Pois uma vez que se trata de uma potência marítima o capitalismo impõe o trabalho escravo para nos permitir receber o fruto de seu trabalho: é preciso pois deixa-los livres [...] A razão pela qual concedemos igualdade aos escravos face aos homens livres, e aos metecos face aos cidadãos, é que uma cidade tem necessidade dos metecos por causa da quantidade de cargos profissionais e da marinha”. Durkheim observa que na Grécia antiga diante do desprezo das profissões, tais atividades eram exercidas quase que exclusivamente por estrangeiros e que por esta razão eram pouco comuns a organização em corporações.[4] Um cidadão não poderia atuar no comércio, caso desejasse seguir nesse intento teria de emigrar para outra cidade. Apenas algumas cidades como Egina e Quios permitiam que seus cidadãos atuassem no comércio[5]. Cícero em De Civitate atribui o “desejo de traficar/fazer comércio” como a causa da decadência de cidades como Corinto e Cartago.[6] Para Cícero: “desprezível é o negócio do varejista, pois só pode ter bom êxito se desonesto, e a desonestidade é a coisa mais vergonhosa do mundo”.[7] Uma mostra de que a atividade industrial não tinha o papel central na economia grega clássica é de durante o século VII e meados do século VI a.c. embora Corinto se destacasse na produção de cerâmicas[8] mesmo quando Atenas veio a suplantar Corinto no século VI a.c. a cidade não experimentou nenhum declínio significativo: “a civilização grega permaneceu enraizada no solo [na agricultura], e isto foi verdade até mesmo para as comunidades mais urbanizadas como Atenas, Corinto ou Mileto”.[9] Mesmo quando Atenas arrebatou de Corinto a primazia deste comércio em meados do século VI a.c. não houve nenhuma mudança significativa nestes “relações coloniais”.[10] A atividade era essencialmente reservada aos homens sendo encontrado em Atenas algumas mulheres com a tarefa de pintura das cerâmicas, porém raramente[11]. Donald Kagan menciona como exemplo as relações amistosas entre a metrópole Corinto exportadora de cerâmicas e sua colônia na Sicília exportadora de grãos[12]. Lindsay Scott destaca que uma vez que as exportações de Atenas era realizada em seus próprios navios e financiada por seus próprios banqueiros tendo se estendido do Mar Negro até a Espanha é provável que a indústria de cerâmica tenha assumido um significado econômico importante do que havia sido em qualquer outro Estado.[13] Moses Finlay mostra como Corinto, mesmo como principal exportadora de cerâmicas para suas colônias e através delas aos etruscos e povos não gregos, não havia uma relação colonial imperialista, entre colônias e metrópoles (do grego cidade mãe) e que tais relações nunca se mantinham por uma base comercial. A cidade clássica é uma extensão do campo, a ponto de Marx concluir: “A história antiga clássica é a história das cidades, porém, de cidades baseadas sobre a propriedade da terra e na agricultura”.[14] Segundo Emil Kuhn a cidade e o campo constituíam uma unidade na Grécia clássica (500 a 338 a.c. quando se deu o início do período helenístico) e não dois modos antagônicos de vida.[15]
[1] GUARINELLO, Norberto Luiz. História Antiga. São Paulo: Contexto, 2020, p.78
[2] JARDÉ, A. A Grécia
antiga e a vida grega, São Paulo:Epusp, 1977, p.170
[3] MONTANELLI, Indro.
História dos gregos, São Paulo:Ibrasa,1962, p. 138
[4] DURKHEIM. Da divisão do
trabalho social, Os pensadores, São Paulo:Abril Cultural, 1978, p. 7
[5] MUMFORD, Lewis. A
cidade na história, São Paulo:Martins Fontes, 1982, p. 149
[6] MUMFORD, Lewis. A
cidade na história, São Paulo:Martins Fontes, 1982, p. 171
[7] HADAS, Moses. Roma
Imperial, Biblioteca de História Universal Life, Rio de Janeiro: José Olympio,
1969, p. 161
[8] FLORENZANO, Maria
Beatriz. O mundo antigo: economia e sociedade. São Paulo:Brasiliense, 1986, p.
36
[9] FLORENZANO, Maria
Beatriz. O mundo antigo: economia e sociedade. São Paulo:Brasiliense, 1986, p.
36
[10] FINLEY, Moses. Los
griegos de la antiguedad. Barcelona: Editorail
Labor, 1966, p. 40
[11] LINDSAY, Scott. The pottery industry. In: SINGER, Charles; HOLMYARD, E.
A history of technology, v.II, Oxford, 1956, p.408
[12] KAGAN, Donald. História
da Grécia Antiga #7 com Donald Kagan, de Yale, 36:00 https://www.youtube.com/watch?v=mHjOKSUb5rA
[13] LINDSAY, Scott. The pottery industry. In: SINGER, Charles; HOLMYARD, E.
A history of technology, v.II, Oxford, 1956, p.409
[14] FLORENZANO, Maria
Beatriz. O mundo antigo: economia e sociedade. São Paulo:Brasiliense, 1986, p.
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