Charles Boxer, por sua vez, destaca que o Tratado de Methuen assinado em 1703 ocorre após o fracasso das negociações com os franceses em 1701 com o rei Sol Luis XIV, e que levou, em represália ao Tratado de Methuen assinado com Inglaterra, aos ataques de corsários franceses realizados no Rio de Janeiro em 1710 por Jean François Duclerc[1] e no ano seguinte por Duguay Trouin.[2] O primeiro historiador a tratar das invasões dos corsários franceses Jean Leclerc e Duguay Trouin foi Rocha Pita. Feito prisioneiro, Duclerc foi assassinado em março de 1711, mesmo mantido sob a guarda de militares portugueses e embora tivesse se rendido através de um acordo. A morte de Leclerc levou a investida de Duguay Trouin em vingança com a cidade. Segundo Jean Marcel Carvalho França, Duguay Trouin só soube da morte de Leclerc ao chegar ao Rio de Janeiro.[3] A Fortaleza de Santiago reformada em 1696 estava em precárias condições de conservação carecendo de material bélico para proteger a cidade quando a frota de Duguat Trouin chegou em 1711. Ao todo a cidade dispunha de 174 canhões e 2800 militares dispostos na ilha de Villegagnon, no Forte São Sebastião, no reduto de São Januário, no reduto de Santa Luzia no Forte de Santiago conhecido como da Misericórdia. Os franceses chegaram com 17 navios de guerra dotados de 740 canhões e 5800 soldados e marinheiros.[4] O governador Francisco de Castro Morais se retirou depois do desembarque dos franceses, ainda que tivesse a disposição soldados suficientes para resistir aos franceses[5], o que permitiu ao corsário saquear a cidade, depois de ter pernoitado na Fazenda dos Macacos em Vila Isabel[6] no Engenho Velho dos jesuítas[7], além de impor oneroso resgate uma vez que os reforços vindos de Minas Gerais demoraram a chegar.[8] O embaixador Paulo Carneiro descreve como insólitas as homenagens do governo francês a Duguay Trouin em 1973 aos seus trezentos anos de seu nascimento quando seus restos mortais foram levados à sua cidade natal Saint Malo carregados em um baú de jacarandá vindo do Brasil, esquecendo-se do horror do ataque ao Rio de Janeiro e o resgate no montante de 610 mil cruzados em ouro[9] cujo valor foi conferido na rua da Quitanda esquina com a rua do Sabão[10], 100 caixas de açúcar e 200 bois acrescidos de mais de doze milhões de cruzados em roubos e saques praticados no ataque[11]. No regresso à França um dos navios Magnanime naufragou levando a bordo grande parte do resgate recebido no Rio de Janeiro. Apesar da perda os navios que conseguiram retornar ainda garantiram um bom lucro ao saque, sendo recebidos como heróis na corte francesa.[12]
[1] GOMES, Laurentino. Escravidão v. II, Rio de Janeiro:GloboLivros, 2021, p. 109
[2] BOXER, Charles. A idade de ouro do Brasil: dores de crescimento de uma sociedade colonial. São Paulo:Cia Editora Nacional, 1969, p. 110,156
[3] GOMES, Laurentino. Escravidão v. II, Rio de Janeiro:GloboLivros, 2021, p. 110
[4] WINZ, Antonio Pimentel. História da Casa do Trem, Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 1962, p. 46
[5] BOXER, Charles. A idade de ouro do Brasil: dores de crescimento de uma sociedade colonial. São Paulo:Cia Editora Nacional, 1969, p. 119
[6] BORGES, Delane; BORGES, Marilane. A Vila de Isabel e Drummond a Noel, Rio de Janeiro: Lions Internacional, 1987, p. 18
[7] GERSON, Brasil. História das ruas do Rio, Rio de Janeiro: Brasiliana, 1965, p. 109
[8] VIANNA, Helio. História do Brasil, primeira parte, período colonial. São Paulo: Melhoramentos, 1972, p.285
[9] PITTA, Sebastião da Rocha. História da América Portuguesa, Belo Horizonte: USP,1976, p. 256
[10] GERSON, Brasil. História das ruas do Rio, Rio de Janeiro: Brasiliana, 1965, p. 110
[11] RODRIGUES, José Honório. História da história do Brasil, São Paulo: Cia Editora Nacional, 1979, p.362
[12] BOXER, Charles. A idade de ouro do Brasil: dores de crescimento de uma sociedade colonial. São Paulo:Cia Editora Nacional, 1969, p. 125