Jean Lacouture mostra que ao contrário de entender a ciência como antagonista à religião, os missionários jesuítas na Ásia usaram a ciência como instrumento de evangelização. No depoimento de Francisco Xavier em sua atividade missionária no Japão no século XVI: “Eles não sabiam que o mundo é redondo e não conheciam o curso do sol; fizeram várias perguntas sobre tais coisas e sobre outras, como cometas, relâmpagos, chuva, neve, e outras que tais. Nós as respondemos e lhes demos explicações, com o que ficaram muito contentes e satisfeitos, considerando-nos homens doutos, o que os ajudou bastante a dar crédito às nossas palavras”.
Em 1552 o núncio católico em carta a Companhia de Jesus a fim de orientar a escolha de padres a darem cursos na universidade do Japão recomenda : “é necessário que eles possuam um certo conhecimento para responder às numerosas perguntas feitas pelos japoneses. Seria bom que fossem bons mestres em artes e não seria mau se fossem dialéticos. Que conhecessem algumas coisas da esfera celeste pois os japoneses tem anseio extremo por conhecer os movimentos do ceu, os eclipses, do sol, as fases crescentes e minguante da lua, a neve e o granizo bem como os trovões, relâmpagos, cometas e outras coisas da natureza. É muito proveitoso explicar-lhe estas coisas para ganhar a benevolência do povo”
Em 1585 amigos chineses do missionário Lorenzo Ricci reconheciam que “se falares a verdade a respeito da geografia, confiaremos em ti quanto ao resto”.
Em 1627 o jesuíta Alexandre de Rhodes em atividade missionaria no Vietnã revela sua abordagem junto o soberano chua Tring Trang em Cua Bang: “eu lhe ofereci um belo livro de matemática, todo dourado, impresso em letras chinesas, isso me deu a oportunidade de fazer um discurso sobre o ceu e os astros, de onde foi fácil chegar ao Senhor do ceu. O rei ouviu-me durante duas horas, embora estivesse muito cansado da viagem e mostrou tal satisfação ao ouvir falar de nossa santa fé que me convidou a comer com ele à moda do país”.
Na conclusão de Jean Lacouture: “se suas palavras obtém crédito é pelo caminhos muito humanos da ciência. Não é (não é apenas) por acreditar mais (ou melhor). Não é a força de seus argumentos religiosos ou metafísicos que faz com que ele se imponha, é a aliança com uma ciência que seus companheiros e ele próprio reconheceram, saudaram, valorizaram”. [1]
[1] LACOUTURE, Jean. Os jesuítas volume I, Porto Alegre: L&PM, 1994, p. 169
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