segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Fílon de Alexandria

 

A biblioteca de Alexandria marca o florescimento cultural da civilização helenística caracterizada por um cosmopolitaniismo no pensamento e nas artes, assim como o desenvolvimento de um idioma grego comum o koine (forma feminina do adjetivo que significa “comum”).[1] Em Alexandria onde havia uma florescente comunidade judaica foi preparada por setenta rabinos a Septuaginta o nome da versão da Bíblia hebraica traduzida em etapas para o grego koiné, entre o século III a.C. e o século I a.C.[2] Esta mescla do pensamento grego com o hebreu pode ser observada na Palestina do século III a.c. com o livro de Eclesiastes. Fílon de Alexandria (30 a.c. – 50 d.c.), considerado o “Platão hebreu”, é um exemplo de judeu alexandrino que integra elementos das duas culturas com forte influência do estoicismo e platonismo.[3] Para Fílon a alma rem sua origem no mundo de Deus, de modo que somente o espírito humano reconhece Deus e o logos, o que é possível quando nos libertamos do mundo visível pela prática da sabedoria e exercício da virtude. Para Fílon a ciência humana é um empreendimento destinado a uma procura contínua, sem fim: “Assim como alguns cavadores de poços, muitas vezes, não encontram a água procurada, assim também aqueles que avançam na ciência e insistem cada vez mais não conseguem alcançar-lhe o fim. Os doutos acusam a própria ignorância, reconhecendo unicamente  quando se acham longe da verdade. Afastando-se da verdade, a dificuldade de propcurá-las e acha-la gera as disputas.  Nas infinitas coisas de que tratam a lógica, a ética e a física nascem inumeráveis discussões. Que nos resta então senão a necessidade de se suspender o juízo ?”.[4] Para Fílon, o conhecimento humano é incapaz de encontrar a verdade.[5] Para Carlos Gouné, Fílon é uma “encruzilhada de caminhos” como judeu da diáspora que experimenta influências diversas e que analisa as crenças pagãs dentro do contexto da religião judaica sendo precursor da teologia e de um método alegorista na análise das escrituras, por metáforas, fora do sentido literal[6]. A interpretação alegórica de Fílon, sofreu a influência do estoicismo que buscava significados ocultos nas obras de autores clássicos como Homero, tal como se pode observar nos textos do estoico Cornuto no século I d.c. e Posidônio de Apameia.[7]

[1] DUNAN, Marcel; BOWLE, John. Larousse encyclopedia of ancient & medieval history, Paris:Larousse, 1963, p.169; FINLEY, Moses. O legado da Grécia. Brasília:UNB, 1998, p.10

[2] https://pt.wikipedia.org/wiki/Septuaginta

[3] MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo: desde Aristóteles até os neoplatônicos, São Paulo: Mestre Jou, 1973, p. 179; KOESTER, Helmut. Introdução ao Novo testamento, V.I, São Paulo: Paulus, 2005, p. 149

[4] MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo: desde Aristóteles até os neoplatônicos, São Paulo: Mestre Jou, 1973, p. 187

[5] MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo: desde Aristóteles até os neoplatônicos, São Paulo: Mestre Jou, 1973, p. 287

[6] Palestra sobre Fílon de Alexandria, com Carlos Nougué https://www.youtube.com/watch?v=GVLrS0imTqc

[7] KOESTER, Helmut. Introdução ao Novo testamento, V.I, São Paulo: Paulus, 2005, p. 157





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