Em Paris o museu de Cluny mostra a tapeçaria La dame à la licorne, do século XV com uma cena representando uma bela mulher que recebe a visita de um unicórnio[1], símbolo da virgindade.[2] Na parte central da figura a dama é apresentada a um pote de joias. Por muito tempo se acreditou que a jovem retirada um colar do pote, mas na interpretação atual, ao contrário, ela retira a joias que vestia em seu pescoço para colocá-lo no pote. Não se trata, portanto, de uma escolha de joalheria, mas de uma renúncia à joalheria. A inscrição tecida no topo do pavilhão "Ao meu único desejo" vinculado a este gesto esclarece o sentido da cena, relacionado ao conceito de livre arbítrio - Liberum arbitrium que mostra a submissão dos sentidos.[3] Segundo a lenda medieval um unicórnio somente poderia ser capturado quando sua cabeça repousasse sobre o colo de uma virgem o que foi interpretado pela Igreja como uma outra imagem para Cristo.[4] Somente quando repousando sobre o corpo da virgem é possível extrair seu chifre. O ser macho fêmea combina aspectos femininos (corpo de virgem) e masculinos (chifre único) simbolizando dois sexos latentes no mesmo ser. A cena simboliza o Cristo tornando-se humano ao nascer do corpo de uma virgem.[5]
[1] GOFF, Jacques. A idade
média explicada aos meus filhos, Rio de Janeiro:Agir, 2007, p. 97
[2] DELORT, Robert. Animais. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do
Ocidente medieval. v.I, São Paulo:Unesp, 2017, p. 78; GOFF, Jacques.
Maravilhoso. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico
do Ocidente medieval. v.II, São Paulo:Unesp, 2017, p. 133
[3] Musée de Cluny, Ministère de la Culture et de la Communication, Paris, 1979, p.
67
[4] In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do
Ocidente medieval. v.I, São Paulo:Unesp, 2017, p. 167
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