sábado, 13 de agosto de 2022

Preço de um escravo no Brasil independente

 

Manolo Florentino estima entre 200$000 (duzentos mil) reis e 380$000 o preço de cada escravo no Rio de Janeiro no início do século XIX muito embora os jornais indiquem 250$000 chegando a 539$000 em 1825.[1] No oeste paulista Warren Dean estima em 550 mil reis o preço médio de um escravo em 1845 chegando a 2 contos de reis (dois milhões de reis) em 1875 para seguir uma queda para 920 mil reis em 1885 à medida em que torna-se mais clara a iminência do fim da escravidão.[2] Com o fim do tráfico atlântico de escravos pela Lei Eusébio de Queiroz de 1850 o preço dos escravos disparou.[3] Manolo Florentino mostra que o tráfico de escravos pode ser dividido em três etapas a primeira indo de (1790-1807) com número estável de desembarques, uma segunda etapa de 1810-1825 quando se verifica um aumento das entradas especialmente após a transferência da metrópole para o Rio de Janeiro e uma terceira etapa de 1826-1830) com crise da oferta africana diante das leis que restringiam tais embarques.[4] Guilherme Resende mostra que os preços dos escravos têm um auge no período 1851–1872, sendo menores em 1873–87 e mais ainda em 1800–1850. Laurentino Gomes argumenta que apesar de tais variações o preço de um escravo nunca foi superior a quatro vezes o custo anual de sua própria subsistência o que o tornava ainda assim um bom investimento.[5] José Reis mostra que na Bahia o preço de um escravo aumentou muito como resultado da perseguição inglesa ao tráfico intercontinental de escravos o que elevou  o preço médio de um escravo de 175 mil reis em 1810 para 450 mil reis em 1840.[6] O aumento do preço dos escravos em 1851–1872 pode estar refletindo tanto um crescimento de produtividade (diante da alta do preço do açúcar no mercado internacional na década de 1850 e o boom do algodão durante a guerra de secessão dos Estados Unidos), quanto a restrição de oferta causada pela cessação do tráfico africano.

[1] FLORENTINO, Manolo. Em costas negras, São Paulo: UNESP, 2014, p. 77, 151, 168, 171, 177

[2] CARVALHO, José Murilo. A construção nacional 1830-1889, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 208

[3] NARLOCH, Leandro. Escravos. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2017. p.19; Preços de escravos e produtividade do trabalho cativo: Pernambuco e Rio Grande do Sul século XIX. Guilherme Resende, Flávio Rabelo Versiani, Luiz Paulo Ferreira Nogueról and José Raimundo Oliveira Vergolino, Anais do XLI Encontro Nacional de Economia [Proceedings of the 41st Brazilian Economics Meeting] from ANPEC - Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia [Brazilian Association of Graduate Programs in Economics], 2014 https://www.anpec.org.br/encontro/2013/files_I/i3-5e92f33f630bb2a13bbc28e70f1ebe2f.doc

[4] FLORENTINO, Manolo; GÓES, José Roberto. A paz das senzalas. São Paulo: Unesp, 2017, p.41

[5] GOMES, Laurentino. Escravidão, v.II, São Paulo: Globo, 2021. p.129

[6] REIS, João José. A morte é uma festa, São Paulo: Cia das Letras, p. 50



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Doação de Constantino

  Marc Bloch observa a ocorrência de falsificações piedosas tais como a pseudo doação de Constantino ( Constitutum Donatio Constantini ) ao ...