quarta-feira, 24 de agosto de 2022

O mito de Prometeu

 

Prometeu, um dos Titãs, raça de gigantes, que habitava a terra antes da criação do homem, ensinou os homens a domesticar animais, fazer remédios, construir barcos, escrever, cantar, interpretar sonhos e buscar riquezas minerais. Na mitologia grega o fogo foi trazido do ceu para a terra, por Prometeu, o protótipo do cientista. Prometeu foi o responsável por roubar o fogo de Zeus e dá-lo aos mortais assegurando a superioridade perante a todos os outros animais[1[]. Para Jean Pierre Vernant “o fogo é de fato a marca da cultura humana. Esse fogo prometeico, roubado pela astúcia, é um fogo “técnico”, um processo intelectual, que demarca a distância entre animais e homens, e consagra o caráter dos homens como criaturas civilizadas”.[2] Zeus o puniu pelo crime, deixando-o amarrado a uma rocha no Cáucaso durante toda a eternidade enquanto uma grande águia comia, durante todo o dia, o seu fígado. [3] Na cultura medieval Prometeu perde sua característica de rebelde criador e passa a ser interpretado como representação do Deus único criador.[4] O castigo dos homens viria por intermédio de Pandora, a primeira mulher, para quem foi entregue uma caixa (em grego pithos significa na verdade um grande jarro usado para armazenamento de mantimentos), com o compromisso de não a abrir. Pierre Grimal observa que numa das versões do mito contada por Hesíodo e O trabalho e os dias, a caixa, na verdade um vaso, teria seria dado por Zeus a Pandora como presente de núpcias. Pandora por sua vez dotada de curiosidade abriu a caixa inadvertidamente e todos os bens escaparam exceto a esperança. Em outra versão do mito o vaso era guardado em algum lugar da terra onde estavam encerrados todos os males.[5] A curiosidade de Pandora, contudo, foi maior do que a obediência e ela abriu a caixa liberando as pestes, desgraças, guerras e a morte, restando apenas a esperança dentro da caixa. O mito de Pandora é etiológico porque se propõe explicar a origem dos sacrifícios, do fogo, da tecnologia, da necessidade de trabalhar por alimentos e a origem da esperança do homem.[6] Se o fato da esperança ainda restar na caixa pode justificar a curiosidade em sua busca por conhecimento, por outro lado, numa visão pessimista Friedrich Nietzsche (1844-1900) escreveu, em Humano, Demasiado Humano, que “Zeus quis que os homens, por mais torturados que fossem pelos outros males, não rejeitassem a vida, mas continuassem a se deixar torturar. Para isso lhes deu a esperança: ela é na verdade o pior dos males, pois prolonga o suplício dos homens”. 


[1] BULFINCH, Thomas. O livro de ouro da mitologia, Rio de Janeiro: Ediouro, 2003, p. 20

[2] VERNANT, Jean-Pierre. O universo, os deuses, os homens. Trad. Rosa Freire d’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 2000

[3] BULFINCH, Thomas. O livro de ouro da mitologia, Rio de Janeiro: Ediouro, 2003, p. 6

[4] ROSSI, Paolo. Os filósofos e as máquinas. São Paulo:Cia das Letras, 1989, p. 143

[5] GRIMAL, Pierre, A mitologia grega, São Paulo: Brasiliense, 1953, p. 38

[6] SZEGEDY-MASZZAK, Andrew. The ancient greeeks, Coursera Week 2 lecture 6 Hesiod: Gods and Farmers https://www.coursera.org/learn/ancient-greeks/lecture/CETeH/hesiod-gods-and-farmers



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