sexta-feira, 26 de agosto de 2022

O leão verde e o solvente universal da alquimia medieval

 

Anna Goldfarb e Márcia Ferraz encontram nos arquivos da Royal Society uma correspondência de 1675 endereçada a Henri Oldenbrug vinda de Augustin Boutens um apotecário e alquimista, com amostra de Ludus com o qual se poderia obter o alkahest (solvente universal)[1] e que poderia ser usado na dissolução de cálculos urinários. Paraceslo se refere ao alkahest como um medicamento particular para o fígado e Van Helmont usa a mesma palavra para um líquido capaz de dissolver qualquer substância.[2] As pesquisadoras mostram que cientistas como Newton e Boyle, mesmo após a aceitação das teses mecanicistas, ainda estavam interessados em tema relacionados com o hermetismo tais como a transmutação e a busca do pó da simpatia, o alkahest, assim como fórmulas magistrais com fins medicinais. O próprio Oldenburg relata expriências alquímicas com o alkahest.[3] Para os alquimistas o alkahest era o solvente dos solventes, capaz de decompor a matéria em seus constituintes elementares e,além disso,poderia ser recuperado intacto depois de qualquer processo de dissolução.[4] Fulcanelli[5] explica o porque deste solvente universal ser conhecido nos textos alquímicos como leão verde: “não tanto porque possua coloração verde mas porque não adquiriu os caracteres minerais que distinguem quimicamente o estado adulto do estado do que nasce. É um fruto verde e amargo, comparado com o fruto vermelho e maduro. É a juventude metálica sobre a qual a Evolução não atuou, mas que contém o germe latente de uma real energia,chamada mais tarde a desenvolver-se. São o arsênico e o chumbo, em relação à prata e ao ouro. É a imperfeição atual de que sairá a maior perfeição futura; o rudimento do nosso embrião, o embrião da nossa pedra, a pedra do nosso Elixir. Certos adeptos, Basile Valentin entre eles, chamaram-lhe Vitríolo verde, para expressar a sua natureza cálida, ardente e salina; outros, Esmeralda dos Filósofos, Orvalho de Maio, Erva saturniana, Pedra vegetal etc. “A nossa água toma os nomes das folhas de todas as árvores, das próprias árvores e de tudo o que apresenta uma cor verde, a fim de enganar os insensatos”, diz Mestre Arnaud de Villeneuve”.

[1] HUITIN, Serge. História geral da alquimia, São Paulo:Pensamento, 2010, p. 74

[2] PRINCIPE, Lawrence. The secrets of alchemy, Chicago: Univ Chicago Press, 2013, p.134

[3] HAAG, Carlos. “Uma incômoda pitada de magia”. Pesquisa Fapesp, v. 199, p. 18-25, set. 2012,  https://revistapesquisa.fapesp.br/uma-incomoda-pitada-de-magia/

[4] GOLDFARB, Ana Maria Alfonso; FERRAZ, Márcia Helena Mendes. Um casamento entre alquimia e medicina, Revista de História da Bibllioteca Nacional, edição n.91, abril 2013 https://web.archive.org/web/20160415175952/http://rhbn.com.br/secao/artigos-revista/um-casamento-entre-alquimia-e-medicina

[5] FULCANELLI. O mistério das catedrais, Lisboa: Edições 70, 1964, p. 116



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