A
Academia dos Esquecidos tendo como modelo a Academia Real de História Portuguesa
foi fundada em 1724 em Salvador com o foco no estudo da história do Brasil teve
curta existência de apenas dez meses, tendo sido realizadas apenas dezoito sessões
ou conferências. Embora os encontros tenham servido de prática de exercícios retóricos,
da eloquência, apesar disso, veiculavam conteúdos importantes da ciência,
filosofia e teologia da época. No âmbito da Academia dos Esquecidos , o
chanceler do Tribunal da Relação da Bahia, Caetano de Brito e Figueiredo, publicou
uma dissertação a respeito da natureza – geografia, ceu, clima e zoologia sob
influência cultural dos padres da Companhia de Jesus. Caetano de Brito e
Figueiredo elaborou sua dissertação de história natural alinhado com os grandes
debates científicos da época na Europa, Gonçalo Soares da Franca elaborou uma
dissertação de história eclesiástica, Inácio Barbosa Machado elaborou uma
dissertação de história militar e Luís de Siqueira da Gama elaborou uma
dissertação de história política[1] Na obra de Caetano de Brito é adotado o modelo cosmológico de Tycho Brahe do
século XVI e ainda corrente entre os jesuítas em Portugal na qual o Sol gira em
torno da Terra estacionária ao longo de um ano mas leva orbitando à sua volta
os restantes planetas. Para Bruno Leite a obra é “marcada por uma tradição
orientada por princípios menos escolásticos, onde certo platonismo não tão
radical, como aquele apresentado pelo jesuíta Athanasius Kircher, ou mesmo
aquele oriundo da filosofia de René Descartes, tão propalada nos ambientes
culturais portugueses do final do século XVII e início do XVIII, faz-se
presente”. Fábio Pedrosa, em artigo sobre o tema, afirmou, sobre a obra de
história natural de Caetano de Brito e Figueiredo, que “seu trabalho é
voltado para uma apresentação da ciência, da natureza da Nova Lusitânia,
voltada mais para o deleite da Corte, para a informação, do que para a
discussão científica. É ainda uma gramática civilizacional, ainda persiste a
ótica do século XVI. Antes de tudo, é uma cultura de salão literário e não de
laboratório, de gabinete de ciências”[2].
Segundo Bruno Leite: “o produto da história que se propunha produzir pensava
menos o Brasil como um domínio português, uma “América portuguesa”, mas sim como
uma parte nova e autônoma do império, um novo Portugal, ou mais precisamente
uma “Nova Lusitânia”.
[1] LEITE, Bruno. “Espíritos de prodigioso valor”: a importância da ciência nos
projetos intelectuais da Academia Brasílica dos Esquecidos – Bahia, Revista
Brasileira de História da Ciência, Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, p. 154-170, jul
|dez 2022, p.159
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