Pela teoria do catastrofismo a cada grande cataclismo (e o grande dilúvio narrado no Gênesis seria o último destes eventos) Deus renovava a vida na Terra criando plantas e animais mais evoluídos de modo que os fósseis seriam marcas de formas de vida anteriores que haviam sido extintas em algum destes cataclismos. No final de cada cataclismo haveria a extinção dessa fauna que posteriormente era substituída por outra migrante de uma localidade não atingida pela catástrofe de modo que toda as formas vivas teriam sido criadas por Deus no início do universo tal como descrito no Genesis. A teoria do catastrofismo seria a única forma de compatibilizar a presença de variada fauna e flora terrestre dentro do curto intervalo de seis mil anos presente nas genealogias bíblicas desde Adão. Segundo Cuvier as espécies encontradas em fósseis tais como o mamute teriam sido extintas pela ocorrência de cataclismos, mas a comprovação de que o homem teria sido contemporâneo a tais espécies não explicava como somente o homem teria sobrevivido a tais cataclismos[1]. A cada novo cataclismo a Terra se tornava progressivamente mais habitável para animais e plantas avançados e para o homem. A natureza descontínua do registro fóssil, segundo Cuvier confirmava a sua tese baseada em descontinuidades. Segundo a teoria das catástrofes, os homens e os macacos eram sobreviventes do último período da Terra, o presente, de modo que não poderiam existir homens antediluvianos. Para Cuvier: “o homem fóssil não existe”[2]. Embora a tese catastrofista de Cuvier tenha ruído no século XIX Cassirer mostra que pelo menos um fragmento da teoria resistiu, a noção de plano de construção – ideia de que cada tipo de animal, sejam os vertebrados ou os moluscos, os articulados ou os radiados, descansa sobre um plano de organização próprio e peculiar a ele. Tal fragmento se articulou ao “vitalismo sem força vital”, de Jacob Uexküll (figura), pela qual os organismos vivos possuem uma força vital que é uma propriedade dos corpos materiais que não se reduz aos processos físicos químicos. No livro Umwelt und Innenwelt der Tiere (1909), ele introduziu o termo "Umwelt" para denotar o mundo subjetivo do organismo. Renan Freitas cita este exemplo para mostrar os riscos de uma história triunfalista da ciência, ou seja, na aceitação acrítica da história das teses que venceram na ciência.[3] Thomas Kuhn ao tratar da questão da incomensurabilidade do novo paradigma com o antigo refere-se que muitas vezes parte do vocabulário e dos aparatos conceituais do paradigma tradicional retornam no novo paradigma dentro de uma nova relação. Na Teoria da Relatividade Geral de Einstein o conceito da tendência do corpo em retornar a seu lugar de origem (no caso o centro da terra), presente no modelo aristotélico é retomado, desta forma, sobre a reconceitualização de um espaço tempo curvo que delimita o movimento dos corpos: “em alguns aspectos importante, embora de maneira alguma em todos, a teoria geral da relatividade de Einstein está mais próxima da teoria de Aristóteles do que qualquer uma das duas está da de Newton”. [4]
[1] LEAKEY, Richard. Origens, Brasília:UNB, 1980, p. 23
[2] WENDT, Herbert. A
procura de Adão. São Paulo:Melhoramentos, 1965, p. 125
[3] FREITAS, Renan. O eclipse da filosofia da ciência na história da ciência. In:
Ciência em perspectiva: estudos, ensaios e debates, Rio de Janeiro, MAST,
SBHC, 2003, p. 127
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