A colônia de Sacramento abastecia a América espanhola
com produtos internos da colônia, tais como carne seca, trigo, e principalmente
peles de animais[1],
em troca da prata espanhola.[2] A
colônia de Sacramento havia sido fundada pelos portugueses em 1680 na esperança
de desviar o fluxo de prata que vinha das minas do Potosi, mas acabou se
tornando um centro de comércio de contrabando com o vice reinado do Peru de
manutenção excessivamente dispendiosa diante dos constantes ataques dos
espanhois.[3] A
Colônia de Sacramento representava os interesses da metrópole portuguesa no
contrabando de couros no extremo sul. Numa carta de 1700 o provedor de fazenda
do Rio de Janeiro, Luiz Lopos Pegado registra as medidas tomadas para apreensão
de uma grande quantidade de couros que o governador de Sacramento pretendia
vender burlando o pagamento de direitos à Portugal. José Alípio Goulart se
refere a testemunho de padres jesuítas e civis espanhóis que se queixam dos
estragos feitos por vaqueiiros de Santa Fé
nas Vacarias do Mar e o contrabando praticado pelos portugueses. O
desenvolvimento do comércio na região levou os espanhóis a fundarem Montenideu
em 1762 para fiscalizar de forma mais efetiva ação dos portugueses. Oliveira
Lima observa que com a entrega da colônia de Sacramento aos espanhóis pelo
Tratado de Madri em 1751 pelo qual Colônia do Sacramento seria dos espanhóis e
Sete Povos das Missões seria de Portugal. O antigo contrabando marítimo,
segundo Oliveira Lima tornou-se em boa parte terrestre pela linha de fronteira
ao invés de simplesmente atravessar o estuário, não cessando o lucro português
que mais tarde passou aos brasileiros.[4] O inglês
John Campbell em 1741 registra: “O comércio que se faz entre Buenos Aires e
Europa só deve ser levado pelos navios procedentes da Espanha e pelo navio
Asiento enviado pela South Sea Company da Inglaterra; mas além, afirma-se existe
um grande comércio de contrabando [...] há uma terceira classe de comércio
ilícito do qual posso falar perfeitamente. Esse é efetuado com os portugueses,
os quais, como já assinalei, dominam a margem oposta do Rio da Prata. Dali eles
aproveitam as ocasiões para enviar, de tempos em tempos, pequenas embarcações
carregadas não apenas com seus próprios gêneros, mas com os que recebem da
Europa, e isso a despeito do cuidado que o governo espanhol pode tomar ou pelo
menos quer tomar, pois é só o interesse que tudo governa nas Índias”.[5]
[1] BOXER, Charles. A idade
de ouro do Brasil: dores de crescimento de uma sociedade colonial. São
Paulo:Cia Editora Nacional, 1969, p. 262
[2] RUSSELL WOOD, A.
Histórias do Atlântico português, São Paulo: UNESP, 2021, p. 153
[3] BOXER, Charles. A idade
de ouro do Brasil: dores de crescimento de uma sociedade colonial. São
Paulo:Cia Editora Nacional, 1969, p.52
[4] GOULART, José Alípio. Brasil do boi e do couro, Rio de Janeiro: Edições GDR,
1966, p. 64
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