terça-feira, 9 de agosto de 2022

A origem do gaúcho

 

A colônia de Sacramento abastecia a América espanhola com produtos internos da colônia, tais como carne seca, trigo, e principalmente peles de animais[1], em troca da prata espanhola.[2] A colônia de Sacramento havia sido fundada pelos portugueses em 1680 na esperança de desviar o fluxo de prata que vinha das minas do Potosi, mas acabou se tornando um centro de comércio de contrabando com o vice reinado do Peru de manutenção excessivamente dispendiosa diante dos constantes ataques dos espanhois.[3] A Colônia de Sacramento representava os interesses da metrópole portuguesa no contrabando de couros no extremo sul. Numa carta de 1700 o provedor de fazenda do Rio de Janeiro, Luiz Lopos Pegado registra as medidas tomadas para apreensão de uma grande quantidade de couros que o governador de Sacramento pretendia vender burlando o pagamento de direitos à Portugal. José Alípio Goulart se refere a testemunho de padres jesuítas e civis espanhóis que se queixam dos estragos feitos por vaqueiiros de Santa Fé  nas Vacarias do Mar e o contrabando praticado pelos portugueses. O desenvolvimento do comércio na região levou os espanhóis a fundarem Montenideu em 1762 para fiscalizar de forma mais efetiva ação dos portugueses. Oliveira Lima observa que com a entrega da colônia de Sacramento aos espanhóis pelo Tratado de Madri em 1751 pelo qual Colônia do Sacramento seria dos espanhóis e Sete Povos das Missões seria de Portugal. O antigo contrabando marítimo, segundo Oliveira Lima tornou-se em boa parte terrestre pela linha de fronteira ao invés de simplesmente atravessar o estuário, não cessando o lucro português que mais tarde passou aos brasileiros.[4] O inglês John Campbell em 1741 registra: “O comércio que se faz entre Buenos Aires e Europa só deve ser levado pelos navios procedentes da Espanha e pelo navio Asiento enviado pela South Sea Company da Inglaterra; mas além, afirma-se existe um grande comércio de contrabando [...] há uma terceira classe de comércio ilícito do qual posso falar perfeitamente. Esse é efetuado com os portugueses, os quais, como já assinalei, dominam a margem oposta do Rio da Prata. Dali eles aproveitam as ocasiões para enviar, de tempos em tempos, pequenas embarcações carregadas não apenas com seus próprios gêneros, mas com os que recebem da Europa, e isso a despeito do cuidado que o governo espanhol pode tomar ou pelo menos quer tomar, pois é só o interesse que tudo governa nas Índias”.[5]

[1] BOXER, Charles. A idade de ouro do Brasil: dores de crescimento de uma sociedade colonial. São Paulo:Cia Editora Nacional, 1969, p. 262

[2] RUSSELL WOOD, A. Histórias do Atlântico português, São Paulo: UNESP, 2021, p. 153

[3] BOXER, Charles. A idade de ouro do Brasil: dores de crescimento de uma sociedade colonial. São Paulo:Cia Editora Nacional, 1969, p.52

[4] GOULART, José Alípio. Brasil do boi e do couro, Rio de Janeiro: Edições GDR, 1966, p. 64

[5] GOULART, José Alípio. Brasil do boi e do couro, Rio de Janeiro: Edições GDR, 1966, p. 58



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