Em 593 a.c Sólon iniciou uma reforma das estruturas social, política e econômica da polis ateniense em que reconhece na Constituição de sua época como “aquela que melhor convém”. Werner Jaeger mostra que Sólon redefine o papel da humanidade e da religião na imputação de responsabilidades “o mundo em que Sólon vive já não deixa ao arbítrio dos deuses a extensão que lhe deixavam as crenças da Ilíada. Impera neste mundo uma ordem jurídica estrita. Assim, Sólon tem de atribuir às culpas dos homens uma boa parte do destino que o homem homérico aceitava passivamente das mãos dos deuses”.[1] As reformas de Sólon proibiram dívidas tendo a pessoa como garantia (seisachtheia)[2], libertando os escravos por dívidas de seu tempo e abolindo esta forma de escravidão em Atenas sem, contudo, abolir todos os privilégios dos aristocratas[3] nem promover qualquer repartição de terras[4]. Muitos credores usavam deste artifício para obter mais mão de obra servil, de tal modo que esta era a função destas dívidas e não o de servir como meio de enriquecimento através de juros.[5] Um homem livre que dava seu trabalho em servidão pelo dinheiro que deve, até que tenha saldado o débito era chamado de nexus. Segundo Moses Finlay: “com Sólon terminaram com as arbitrariedades na criação e aplicação das leis, de deste modo, deu-se vigor a ideia que chegaria a ser a definição grega da organização política civilizada, mas ainda, aqueles passos foram um avanço em direção a igualdade perante a lei, igualdade que os atenienses da época clássica consideraram com o traço distintivo da democracia”.[6] Moses Finlay é o principal expoente da vertente primitivista dos estudos sobre a economia antiga, que entende que valores como o status e a ideologia cívica governavam a economia antiga ao invés de motivações econômicas racionais. Patrick Le Roux por sua vez entende eu no império romano a autoridade do imperador se impunha sem o recurso de uma ideologia: “ainda que tenham sido empregado algumas vezes dísticos de propaganda, mencionar a existência de ideologias é um anacronismo, já que ela não se destinavam a reforçar a expressão do poder imperial, contido em si mesmo. A superioridade evidente do poder do imperador não necessitava de ser reforçada ideologicamente, porque era conhecida por todos e visível aos olhos”.[7]
[1] JAEGER, Werner.
Paideia, São Paulo:Ed. Herder, 1936, p.169
[2] DUNAN, Marcel; BOWLE, John. Larousse encyclopedia of ancient &
medieval history, Paris:Larousse, 1963, p.109
[3] ULRICH, Paul. Os grades
enigmas das civilizações desaparecidas, Grécia, Roma e Oriente Médio, Rio de
Janeiro, Otto Pierre Ed, 1978, p.71
[4] FLORENZANO, Maria
Beatriz. O mundo antigo: economia e sociedade. São Paulo:Brasiliense, 1986, p.
32
[5] FINLEY, Moses. Economia
e sociedade na Grécia antiga, São Paulo:Martins Fontes, 2013, p. 177
[6] FINLEY, Moses. Los
griegos de la antiguedad. Barcelona: Editorail
Labor, 1966, p. 45
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