segunda-feira, 18 de julho de 2022

O golem judaico

 

Entre os cabalistas judeus do século XII e os hassidim primitivos também há relatos da possibilidade de se dar vida ao golem, um homem de tamanho reduzido produzido por poder mágico humano, resultado de um ritual de magia previsto em algumas versões apócrifas do Sefer Ietzirá.[1] O Zohar descreve esse conhecimento de magia demonizada como tendo origem nas folhas da árvore do conhecimento e da morte do Gênesis. Eleazar de Worms no século XII comenta estas passagens que se encontram algumas das versões do Sefer Ietzirá. Uma versão do aluno de Rabi Iudá, o pio, no século XIII se refere ao golem feito por Bem Sira, tendo sido o mesmo detstruído  pela inversão reversão da combinação mágica das letras do nome pelo qual foi chamado á vida. Entre os cabalistas do Languedoc no século XIII Iahudá bem Batura registra o diálogo do profeta Jeremias diante de Deus ao meditar sobre o Sefer Ietzirá e criar um golem depois de estudas os princípios cabalísticos de combinação, agrupamento e formação de palavras com o tetragrama sagrado formando Yhwh Elohim Emet (Deus é verdade). Mas este homem tinha uma faca na mão e com ela raspou a letra alef da palavra emet, restou apenas met. Então Jeremias rasgou suas vestes como protesto contra a blasfêmia. O golem explicou que assim o fez para que não pensassem que Jeremias era Deus conduzindo o povo ao politeísmo, e o orientou a escrever os alfabetos de trás para frente sobre a terra para que meditasse ao contrário. E assim foi feito e o homem (golem) se transformou em pó. Jeremias conclui: “na verdade dever-se-ia estudar estas coisas só com o propósito de conhecer o poderio e a onipotência de Deus, mas não com o propósito de praticá-las”. A rejeição do judaísmo ao golem explica sua rejeição as imagens de culto pois de fato poderiam ser consideradas como uma espécie de golem animado. No Zohar a estátua do rei Nabucodonosor em Daniel 3 despertou para vida. O cabalista Abraão Abulafia descreve o ritual: “depois toma um vasilhame cheio de água pura e uma colher pequena e enche-o de terra, mas ele deve conhecer exatamente o peso da terra, antes que comece a mexê-la, e deve saber a medida exata da colher com a qual medirá (mas esta informação não é ministrada por escrito). Depois de enchê-lo, deve esparramá-la e soprá-la sobre a água. Enquanto assopra a primeira colher cheia de terra, deve pronunciar uma consoante do Nome, em voz alta, e pronunciando-a de um só fôlego, até que não consiga assoprar mais. Ao fazer isso, seu rosto deve estar virado para baixo. E assim, começando com as combinações que constituem as partes da cabeça, deve formar todos os membros, numa determinada sequência, até emrgir uma figura (o golem)”. Para Gershom Scholem este vasilhame na verdade é uma retorta de alquimia. O processo criativo expõe o seu criador a risco de vida, de modo que errs na execução das instruções  não prejudicam o golem, mas destroem o criador. Tais golems contudo não são dotados de falaBahia bem Ascher em 1291 se refer ao golem criado por Rava como dotado de uma “alma motora mas não a alma racional que é a origem da fala”. No Toldot Ieschu, texto hebraico da baixa Idade Média, Jesus provou sua pretensão de ser o filho de Deus fazendo pássaros de barro e depois pronunciando sobre estes o nome de Deus, depois do que eles adquiriram vida e levantaram vôo. Em 1530 Meis ibn Gabai nota que um homem magicamente produzido é mudo, não dispondo de alma espiritual ruach, mas tendo alma em um grau inferior a nefresch pois é capaz de movimentar-se. Trata-se de uma criatura telúrica, animada por magia, que pertence ao domínio das forças elementares.No século XVI Iossef Ascquenazi afirma: “achamos que um homem é caáz de fazer um golem, que recebe uma alma animal por força da sua (e.. do mestre) palavra, mas dar-lhe uma alma de verdade não está no poder do homem, pois vem da palavra de Deus”. Alberto Magno construiu um autômato chamado Androide que se movia e pronunciava algumas palavras, mas que acabou despedaçado por Tomás de Aquino. Paracelso construiu figuras de argila e cera que denominava homúnculos, Tendo por matéria prima outros elementos como exterco de cavalo, urina, esperma e sangue, segundo Jacoby. Ao fim de quarenta dias o homúnculo começava a se desenvolver a partir da putrefação dessa matéria bruta. Homúnculos semelhantes são relatados como tendo sido construídos a partir da matéria inanimada por Arnaldo de Villanova.[2] Outro alquimista que tentou criar homúnculos foi Johanned Konrad Dippel. Quando em 1677 Leeuwenhoek e Luiz Hamm usando um microscópio consegue visualizar um espermatozóide pensaram que ele tinha uma miniatura de humano dentro (homúnculo) que se desenvolvia quando depositado nos órgãos sexuais femininos.



[1] SCHOLEM, Gershom. A cabala e seu simbolismo. São Paulo: Perspectiva, 1988, p. 207

[2] SCHOLEM, Gershom. A cabala e seu simbolismo. São Paulo: Perspectiva, 1988, p. 233



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