O historiador
Capistrano de Abreu se refere a "Civilização do Couro"[1] para descrever a importância da pecuária no interior nordestino. A criação de
gado esteve diretamente ligada a viabilização de estradas que ligavam Maranhão
à Bahia com prolongamentos pelo Piauí e Goiás. Salvador se integrava à chapada
Diamantina bem como os sertões de Ilhéus e Porto Seguro, ou seja, a criação de
gado foi um importante fator de integração nacional[2].
Antonil em sua obra Cultura e Opulência de 1711 já registra a exportação de
couros do Brasil para a Lisboa. Uma carta dos Oficiais da Câmara de Olinda em
1729 registra a importância da sola e do açúcar no comércio local. A Companhia
Gera de Comércio de Pernambuco e Paríba registra exportações de meios de sola,
couros em cabelo e atanados no período de 1751 a 1775. Na capitania da Bahia de
1714 uma carta dirigida ao el-rey pelos
Oficiais da Câmara se queixa da falta de gados para carne diante da crescente
utilização na indústria do couro diante da demanda no mercado interno e para
Lisboa. A mesma queixa está presente em outros documentos da época. Oliveira
Lima um documento datado de 1792 que registra na Capitania de São Pauloa
presença de “muita coirama”[3].
John Mawe assinala que em 1807 São Paulo exportava couros e sola para o Rio de
Janeiro. A sola era parte do couro bruto, jâ seco, e destinava-se,
principalmente, às sapatarias. O couro em cabelo era o couro bruto e salgado. Também
chamado de vaqueta, sola ou soleta tanino, o coro atanado é o principal tipo de
couro usado em projetos artesanais, feitos a mão. Trata-se de couro totalmente
natural, sem coberturas ou acabamentos. Segundo Roberto Simonsen o comercio do
gado bovino e a movimentação de tropas muares pelo país foi um fator de unidade
econômica brasileira: “alargadas as
fronteiras econômicas, ocupadas as vastas regiões dos sertões brasileiros, as
economias e os capitais nacionais estavam representados, em fins do período
colonial, nos engenhos, na escravaria e na pecuária. Foi a acumulação destes
dois elementos, pela mineração, que facilitou a rápida expansão da cultura
cafeeira, cultura esta que, por sua natureza especial, exigiria fartos braços e
amplos meios de transporte”.[4] Para Roberto Simonsen: “foi o gado o
elemento de comércio por excelência por toda a hinterlândia brasileira, na
maior parte da fase colonial. Indústria mais pobre, relativamente, que a do
açúcar, apresentava, porém, uma feição caracteristicamente local, formadora de
gente livre e com capitais próprios. A indústria açucareira, com outra
organização social, funcionava, em grande parte com capitais da metrópole, aos
quais eram atribuídos os maiores
proventos. A produção da pecuária, e o seu rendimento ficavam incorporados ao
país. As suas feiras, entre as quais a de Sorocaba, exerceram uma função
inconfundível na formação de nossa infra estrutura econômica unitária, antes da
independência”.[5]
[1] BOXER, Charles. A idade
de ouro do Brasil: dores de crescimento de uma sociedade colonial. São
Paulo:Cia Editora Nacional, 1969, p. 246
[2] VIANNA, Helio. História
do Brasil, primeira parte, período colonial. São Paulo: Melhoramentos, 1972,
p.234
[3] GOULART, José Alípio. Brasil do boi e do couro, Rio de Janeiro: Edições GDR,
1966, p. 34
[4] SIMONSEN, Roberto.
História Econômica do Brasil, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1962, p.187
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