Para Adolphe Franck existe uma grande analogia
entre a filosofia platônica e certos princípios metafísicos e cosmológicos
ensinados no Zohar: “Em ambos os lados vemos a Inteligência Divina ou o
Verbo moldando o universo de acordo com os tipos contidos em Si mesmo antes que
as coisas fossem geradas. De ambos os lados vemos os números desempenharem o
papel de intermediários entre as ideias, entre a ideia suprema e os objetos que
são a manifestação incompleta no mundo desta ideia. Em ambos os lados,
finalmente, encontramos os dogmas da preexistência das almas, da reminiscência
e da metempsicose”.[1] Adolphe Franck observa que Eusébio de Cesareia menciona que o judeu Aristóbulo
de Panias estava entre muitos filósofos de seu tempo, que argumentava que o
essencial da filosofia e da metafísica grega foi derivado de fontes judaicas. O
filósofo Numênio de Apameia reafirma essa posição em sua declaração bem
conhecida: "O que é Platão, senão Moisés falando grego ático?". Adolphe Franck, faz um paralelo entre a relação da Cabala com o pensamento grego e
conclui que, embora reconheça afinidades entre a cabala e Platão, tal como Eusébio
de Cesareia que entende que gregos e judeus tiveram um desenvolvimento independente
um do outro, da mesma forma as origens da cabala não devem ser encontradas no
platonismo: “A Cabala não é uma imitação da filosofia platônica; pois Platão
era desconhecido na Palestina onde o sistema cabalístico foi fundado. Além
disso, não obstante a vários traços semelhantes que nos impressionam à primeira
vista, as duas doutrinas diferem totalmente em os pontos mais importantes”.
Franck destaca que as afinidades da cabala são ainda maiores com o
neoplatonismo do que com o platonismo puro: “Deus é para Plotino e seus
discípulos, bem como para os adeptos da Cabala, a causa imanente da origem
substancial das coisas. Tudo vem dEle, e tudo volta para Ele [...] De acordo
com os platônicos alexandrinos, Deus só pode ser concebido na forma de uma trindade.
Há uma trindade que é composta das seguintes três expressões que foram
emprestados da linguagem de Platão: a Unidade ou o Bem, a Inteligência e a Alma
do mundo ou o Demiurgo [...] ”. Mas
da mesma forma Franck não reconhece na escola alexandrina da diáspora judaica a
origem da cabala: “A Cabala não é uma imitação da escola alexandrina.
Primeiro, porque antecede a escola alexandrina, e em segundo lugar porque o
judaísmo sempre mostrou uma profunda aversão e ignorância da civilização grega,
mesmo quando elevou a Cabala a o grau de revelação divina”. Adolphe Franck
acredita que a cabala tenha sua origem no período do exílio na Babilônia em 540
a.c. quando houve o contato com a teologia dos parsis Hindus cuja religião era
o zoroastrismo.[2] Apesar disso Franck destaca mesmo sob influência do zoroastrismo a cabala
preservou a noção de unidade da divindade: “A doutrina dos cabalistas
apresenta um caráter bem diferente. Aqui o monoteísmo é o fundamento, a base e
o princípio de tudo; dualismo e todas as outras distinções de qualquer natureza
existe apenas formalmente. Só Deus, Deus, Uno e Supremo, é ao mesmo tempo a causa,
a substância e a essência inteligível, a forma ideal de tudo o que é. Somente
entre o Ser e o Não-ser, entre a forma mais elevada e no grau mais baixo de
existência há uma oposição, um dualismo”.
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