domingo, 24 de julho de 2022

A influência do platonismo na cabala

 

Para Adolphe Franck existe uma grande analogia entre a filosofia platônica e certos princípios metafísicos e cosmológicos ensinados no Zohar: “Em ambos os lados vemos a Inteligência Divina ou o Verbo moldando o universo de acordo com os tipos contidos em Si mesmo antes que as coisas fossem geradas. De ambos os lados vemos os números desempenharem o papel de intermediários entre as ideias, entre a ideia suprema e os objetos que são a manifestação incompleta no mundo desta ideia. Em ambos os lados, finalmente, encontramos os dogmas da preexistência das almas, da reminiscência e da metempsicose”.[1] Adolphe Franck observa que Eusébio de Cesareia menciona que o judeu Aristóbulo de Panias estava entre muitos filósofos de seu tempo, que argumentava que o essencial da filosofia e da metafísica grega foi derivado de fontes judaicas. O filósofo Numênio de Apameia reafirma essa posição em sua declaração bem conhecida: "O que é Platão, senão Moisés falando grego ático?". Adolphe Franck, faz um paralelo entre a relação da Cabala com o pensamento grego e conclui que, embora reconheça afinidades entre a cabala e Platão, tal como Eusébio de Cesareia que entende que gregos e judeus tiveram um desenvolvimento independente um do outro, da mesma forma as origens da cabala não devem ser encontradas no platonismo: “A Cabala não é uma imitação da filosofia platônica; pois Platão era desconhecido na Palestina onde o sistema cabalístico foi fundado. Além disso, não obstante a vários traços semelhantes que nos impressionam à primeira vista, as duas doutrinas diferem totalmente em os pontos mais importantes”. Franck destaca que as afinidades da cabala são ainda maiores com o neoplatonismo do que com o platonismo puro: “Deus é para Plotino e seus discípulos, bem como para os adeptos da Cabala, a causa imanente da origem substancial das coisas. Tudo vem dEle, e tudo volta para Ele [...] De acordo com os platônicos alexandrinos, Deus só pode ser concebido na forma de uma trindade. Há uma trindade que é composta das seguintes três expressões que foram emprestados da linguagem de Platão: a Unidade ou o Bem, a Inteligência e a Alma do mundo ou o Demiurgo [...] ”.  Mas da mesma forma Franck não reconhece na escola alexandrina da diáspora judaica a origem da cabala: “A Cabala não é uma imitação da escola alexandrina. Primeiro, porque antecede a escola alexandrina, e em segundo lugar porque o judaísmo sempre mostrou uma profunda aversão e ignorância da civilização grega, mesmo quando elevou a Cabala a o grau de revelação divina”. Adolphe Franck acredita que a cabala tenha sua origem no período do exílio na Babilônia em 540 a.c. quando houve o contato com a teologia dos parsis Hindus cuja religião era o zoroastrismo.[2] Apesar disso Franck destaca mesmo sob influência do zoroastrismo a cabala preservou a noção de unidade da divindade: “A doutrina dos cabalistas apresenta um caráter bem diferente. Aqui o monoteísmo é o fundamento, a base e o princípio de tudo; dualismo e todas as outras distinções de qualquer natureza existe apenas formalmente. Só Deus, Deus, Uno e Supremo, é ao mesmo tempo a causa, a substância e a essência inteligível, a forma ideal de tudo o que é. Somente entre o Ser e o Não-ser, entre a forma mais elevada e no grau mais baixo de existência há uma oposição, um dualismo”.



[1] FRANCK, Adolphe. The Kabbalah, New York: The Kabbalah Publish. Co. 1926, p. 214

[2] FRANCK, Adolphe The Kabbalah, New York: The Kabbalah Publish. Co. 1926, p. 15



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