Para
Perle Epstein: “para os místicos judeus, a língua hebraica sempre
correspondeu fisicamente às coisas que designa. O simples ato de escrever uma
letra hebraica podia produzir um efeito unificador entre a mente e o corpo,
colocando a pessoa em contato com o mundo superior [...] Três letras primordiais,
o aleph, mem e shin continham todos os elementos potenciais, seguiam-se doze
letras simples que serviam como um canal para a energia divina que sustenta o
universo [...] Para o cabalista, as letras representam uma combinação de nome e
forma que abrange nosso universo físico conhecido. Do mesmo modo que o físico
que hoje procura, por meio dos quarks, localizar a partícula mais simples, a
essência ou a qualidade fundamental da matéria, o cabalista, transformando as
palavras nome e forma numa espécie de átomo divino, chega por meio da letra até
a sua essência, fazendo com ela todas as combinações e permutações permitidas
pela natureza, de maneira a saltar para além da natureza. Com esse objetivo,
ele manipula o primeiro Nome de Deus, força fundamental que forma toda a
matéria [..] A técnica da meditação conhecida como tzeruf, permutação de
letras, usa a linguagem para romper sua própria estrutura e permite ao místico
atingir muito rapidamente o reino supra racional”. Abraham Abulafia nascido
em Saragoça em 1240, mestre do tzeruf, quebrou todas as regras da irmandade
mística judaica quando revelou ao mundo suas técnicas de permutação das letras
hebraicas sagradas para a contemplação do Nome de Deus, tornando o conhecimento
esotérico acessível ao homem comum: “o nome deste caminho inclui o mistério
das setenta línguas, que está na permutação das letras, de modo a trazer de
volta as letras à sua substância primitiva, ou à sua materialização, pela
vocalização e pelo pensamento segundo o caminho
das dez esferas. Nenhuma coisa sagrada é inferior a dez”. Seu
trabalho influenciou místicos como Pico dela Mirandola.[1] Segundo Gershom Scholem: “O mundo secreto da divindade é um mundo de
linguagem, um mundo de nomes divinos que se abrem de acordo com uma lei que
lhes é própria. Os elementos da linguagem divina aparecem com as letras das
Escrituras Sagradas. Letras e nome não são apenas meios convencionais de
comunicação. São muito mais. Cada um deles representa uma concentração de
energia e exprime uma riqueza de significados que não pode ser traduzida, não
plenamente, pelo menos, em linguagem humana. Há, é evidente, uma discrepância
entre os dois simbolismos. Quando os cabalistas falam de atributos divinos e de
sefirot, descrevem o mundo secreto sob dez aspectos; quando, por outro lado,
falam de nomes e letras divinas, operam necessariamente com as vinte e duas
consoantes do alfabeto hebraico, no qual a Torá é escrita, ou como eles o
teriam formulado, através da qual a essência secreta da Torá foi tornada
comunicável”.[2] O
teólogo protestante Carpzow em 1687 foi o primeiro a se referir a cabala como a
“teoria mítica dos judeus”. As sefirot remetem aos dez números
arquetípicos (safar significa contar) considerados como os
poderes fundamentais de toda a existência.[3]
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