quarta-feira, 15 de junho de 2022

Os versos de Ouro de Pitágoras

 

Assumindo que 1 + 2 + 3 + 4 = 10, o número "dez" era visto entre os pitagóricos como um conjunto de quatro elementos que representa o "alicerce" das coisas do mundo correspondendo a um tetraktys. Para os pitagóricos tudo descende do tetraktys, isto é, do quaternário,[1] símbolo primário da filosofia pitagórica que representa a criação a partir do qual o universo e todas as coisas surgiram.[2] Filolau chama a década de “grande, todo poderosa e criador de tudo, o início e o guia do divino como da vida terrestre”.[3] Segundo Lysis nos Versos de Ouro (Carmen Aureum) descreve que os pitagóricos juravam perante a tétrada sagrada: “Eu juro por aquele que grava nos nossos corações. A tétrada sagrada imenso e puro símbolo. Origem da natureza e modelo dos deuses[4] [...] E você saberá que a lei está estabelecida na natureza interior de todas as coisas semelhantes”[5] Arquitas descreve a tetrakys como “símbolo dos supremos processos e forças do Cosmos, chave de todas as proporções harmônicas”.[6] A forma triangular da tetrakys representa a progressão aritmética da criação do abstrato ao concreto. Helena Blavatsky observa que entre os pitagóricos o quatro era considerado sagrado, o quadrado perfeito no qual nenhuma das linhas que o limitam cruzam a outra em qualquer outro ponto, simbolizando a disposição da justiça moral e da equidade divina expressas de forma geométrica.[7] Para Helena Blavatsky “O Sagrado Quatro da Tetraktis é formado pela Tríade dentro do círculo, o Quadrado dentro do Círculo sendo a mais potente de todas as figuras mágicas. A ideia de quadratura do círculo, então, é em última análise um grande mistério oculto na natureza andrógina do próprio Logos. A linha que desce do ápice da Tríade para formar a primeira cruz cria simultaneamente o Quadrado Perfeito. O problema da quadratura do círculo tem fascinado os homens há séculos. Quando na prisão, Anaxágoras tentou resolvê-lo e Hipócrates tentou sua solução quadrando certas linhas no círculo, Jâmblico disse que Apolônio quadrava o círculo por meio de uma certa curva ('a curva de Nicomedes') e se referia a um tratado em que ele discutiu uma hélice cilíndrica capaz de quadrar o círculo".[8]

[1] LÉVI, Éliphas. História da magia, São Paulo:Pensamento, 2010, p.80

[2] CAMPBELL, Joseph. O poder do mito. São Paulo:Palas Atena, 1990, p.29

[3] SEIDENBERG, The Ritual Origin of Counting, Archive for History of Exact Sciences , 16.11.1962, Vol. 2, No. 1 (16.11.1962), p.1-40 Springer, https://www.jstor.org/stable/41133226

[4] SCHURÉ, Edouard. Os grandes iniciados: Pitágoras, Rio de Janeiro: Ediouro, 1986, p. 71, 143; MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo: v.I , São Paulo: Mestre Jou, 1964, p. 66

[5] MARTINEAU, Jean. Quadrivium, Rio de janeiro: realizações, 2014, p.45

[6] CONTE, Carlos Brasílio. Pitágoras: ciência e magia na Antiga Grécia,São Paulo: Madras, 2015, p.107

[7] BLAVATSKY, Helena, Isis sem veu, v.1 Ciência, São Paulo: Pensamento, 1995, p.107

[8] BLAVATSKY, Helena. The square. https://theosophytrust.org/746-the-square



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