domingo, 12 de junho de 2022

Os mistérios de Deméter

 

Para Gimbutas as descobertas de imagens femininas encontrados em diferentes sítios arqueológicos  da idade da Pedra  sugeriria uma civilização pan europeia centrada no matriarcado  entre 6500 e 3500 a.c.[1] Divindades como Cibele a Grande Mãe na Ásia Menor, a deusa hindu Kali, Deméter a mãe das colheitas e mãe das águas Tiamat da Mesopotâmia demonstram o papel predominante da mulher  nos antigos mitos religiosos.[2] No mito grego da mãe terra Deméter (Ceres entre os romanos) responsável pela fertilidade, agricultura e pelas boas colheitas, e sua filha Perséfone (Prosérpina) enviam Triptolemo em seu carro puxado por dragões alados para ensinar o cultivo de cereais à humanidade. Perséfone passa seis meses no reino subterrâneo, período em que as sementes da cevada se ocultam debaixo da terra e o restante do ano no mundo dos vivos, na primavera, quando as sementes brotam da terra e assim Proserpina pode ser restituída à sua mãe[3]. Quando Plutão sequestrou Perséfone para o mundo subterrâneo, numa expressão mítica da semeadura, ele lhe deu a semente de romã para comer pois a romã tem muitas sementes o que garantiria se alimentar por todo o período e assim poder retornar todos os anos.[4] Perséfone é assim a personificação do grão jovem do ano ao passo que a deusa mãe Deméter a personificação do grão do ano passado. O Hino a Demeter  atribuído a Homero narra a históri a de Perséfone e da criação do santuário de Eleusis. Os ritos de Eleusis eram praticados no Telesterion fechado ao grande público e reservado aos iniciados onde eram encenados mitos de Deméter e Perséfone (mystai) representando o ciclo de nascimento e morte[5]. Segundo James Frazer: “nesses mistérios a ideia da semente enterrada no solo para renascer para uma vida superior sugere imediatamente uma comparação com o destino humano e fortalece a esperança de que, para o home, também a sepultura pode ser também o começo de uma existência melhor e mais feliz em um mundo desconhecido. Essa reflexão simples e natural parece perfeitamente suficiente para explicar a associação da deusa dos grãos em Eleusis com o mistério da morte e a esperança de uma imortalidade bem aventurada. Os antigos consideravam a iniciação nos mistérios eleusinos como uma chave para abrir os portões do paraíso, como se evidencia pelas alusões que autores bem informados fazem à felicidade que espera os iniciados na outra vida”[6]

[1] DONKIN, Richard. Sangue, suor e láqrimas. Sâo Paulo: Macron Books, 2003, p. 10

[2] MUMFORD, Lewis. A cidade na história, São Paulo:Martins Fontes, 1982, p. 34

[3] BULFINCH, Thomas. O livro de ouro da mitologia, Rio de Janeiro: Ediouro, 2003, p. 73

[4] FRAZER, James. O ramo de ouro. São Paulo: Círculo do Livro, 1978, p. 151

[5] READERS’S DIGEST. Os últimos mistérios do mundo, Rio de Janeiro, 2003, p.48

[6] FRAZER, James. O ramo de ouro. São Paulo: Círculo do Livro, 1978, p. 139



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Doação de Constantino

  Marc Bloch observa a ocorrência de falsificações piedosas tais como a pseudo doação de Constantino ( Constitutum Donatio Constantini ) ao ...