domingo, 26 de junho de 2022

O uso do betume na Babilônia e na arca de Noé

 

No século VII a.c Nabucodonosor construiu os chamados jardins suspensos da Babilônia que eram mantidos úmido por dispositivos semelhantes ao parafuso de Arquimedes (que apareceria setecentos anos depois) movimentados por escravos e que puxavam para cima a água do Eufrates.[1] Sprague de Camp observa que o termo “suspensos” parece equivocado pois dá a impressão de que os jardins sejam suspensos por algum tipo de correia o que não é o caso[2]. M. Drower sugere que os jardins ditos suspensos  foram possivelmente construídos sobre uma adega abobadada na qual havia um poço, operado possivelmente por uma corrente de baldes ou roda d'água que irrigava o jardim. O teto desta adega era revestimento de betume para ser à prova dágua, acima do qual eram plantadas árvores.[3] O uso de betume para vedação de embarcações é mencionado no relato do Gilgamesh, bem como na epopeia do Atrahasis ou na narrativa conhecida como “Tablete da arca”, no relato de Beroso mencionado por Josefo (Ant. 1:3), assim como no relato do Genesis sobre a arca de Noé.[4] Segundo o relato de Josefo: “Agora todos os escritores de Histórias Bárbaras fazem menção deste dilúvio e desta Arca: entre os quais está Berosus, o caldeu. Pois quando ele está descrevendo as circunstâncias do dilúvio, ele continua assim: “Dizem que ainda há alguma parte deste navio na Armênia, na montanha dos Cordeus; e que algumas pessoas carregam pedaços do betume: que eles tiram e usam principalmente como amuletos, para evitar danos. Hieronymus o egípcio também, que escreveu as Antiguidades Fenícias; e Manaseas, e muitos outros fazem menção ao mesmo. Nicolau de Damasco, em seu nonagésimo sexto livro, tem uma relação particular sobre eles: onde ele fala assim: “Há uma grande montanha na Armênia, sobre Minyas, chamada Baris: sobre a qual é relatado que muitos que fugiram na época do dilúvio foram salvos: e aquele que foi carregado em uma arca, desembarcou no topo dela; e que os restos da madeira foram preservados por muito tempo: este pode ser o homem sobre quem Moisés, o legislador dos judeus, escreveu”[5].

[1] TERESI, Dick. Descobertas perdidas, São Paulo:Cia das Letras, 2008, p.318

[2] CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers, New York: Ballantine Books, 1963, p. 68

[3] DROWER, M. Water supply, irrigation and agriculture, In: SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, v.I, Oxford, 1956, p.551

[4] PRICE, Randall. Manual de arqueologia bíblica Thomas Nelson, Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2020, p.64

[5] https://penelope.uchicago.edu/josephus/ant-1.html



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