Para Robert Ritner[1] o conceito de magia no Antigo Egito se distingue do conceito Ocidental onde o
termo significa qualquer atividade que busca atingir objetivos que estejam fora
das leis naturais de causa e efeito dos acontecimentos. No Egito a atividade
mágica não é vista como algo supernatural, que esteja além da natureza, mas a “quintessência de uma parte da
natureza, sendo contemporânea com a criação da ordem natural e usada pelos
deuses para manter – e não violar – aquela ordem”. Tais práticas estão diretamente relacionados
com as práticas de culto da religião de modo que as designações de textos como
mágicos e não como religiosos ou médicos pode se mostrar problemática. Para o
egípcio a mágica não é vista como um truque, ao contrário do mundo greco romano
em que os termos relativos a mágica rapidamente foram associados à fraude. O maior centro de magia no antigo Egito era a cidade de
Heliópolis, próximo ao atual Cairo, e que reunia os maiores sábios da época bem
como onde foram encontrados numerosos papiros “mágicos”.[2] Segundo
o Talmud Shabat 104b, Sanhedrin 67a judaico: “dez medidas de feitiçaria
vieram ao mundo, o Egito recebu nove medidas, e todo o resto do mundo uma”.[3] Para o antigo Egito a magia - heka
possivelmente significava em sua origem “reger
os poderes”. Nectanebo II foi o último faraó da XXX dinastia do egípcia.
Seu nome seria Nakhthorheb e usaria o epíteto mery-hathor, que significam
"Forte é seu Senhor" e "Amado de Hator". De acordo com
Pseudo Calístenes, esse rei era famoso como mágico e sábio, e profundamente
instruído em toda a sabedoria de os egípcios. hábil em ler as estrelas,
interpretar presságios, fazer horóscopos, prever o futuro. Em uma das lendas
medievais chamada “Romance de Alexandre” conta a história de Nectanebo envia um
sonho para rainha Olímpia, esposa de Felipe II, no qual o deus Amon a visitaria
à noite. Para produzir esse efeito Nectanebo foi ao deserto, e colheu uma série
de ervas que ele sabia usar para fazer as pessoas sonharem e, depois de trazê-las
com ele, espremer o suco delas. Ele então fez a figura de uma mulher em cera e
escreveu sobre ela o nome de Olímpia, assim como o sacerdote de Tebas fez a
figura de Âpep em cera e gravou seu nome nela. Nectanebus acendeu então sua
lâmpada e, tendo derramado o suco das ervas sobre a figura de cera da rainha,
conjurou os demônios a tal propósito que Olímpia tivesse o sonho em que teria
um filho com Amon, que seria Alexandre Grande, que seri na verdade, segundo
esta lenda, filho de Nectanebo, dando assim continuidade a linhagem dos faraós
egípcios. Mas os meios descritos acima não eram os únicos conhecidos por
Nectanebus para obter sonhos, pois quando ele quis fazer Filipe da Macedônia
ver certas coisas em um sonho e ter uma certa visão sobre o que viu, ele enviou
um falcão, que ele havia enfeitiçado anteriormente com palavras mágicas, para
Filipe enquanto ele dormia. O uso de objetos de cera para se atingir feitiços usado
no Egito foi transferido para o mundo grego como é mencionado pelo escritor
árabe Abu-Shâker, no século XIII que, menciona uma tradição que Aristóteles deu
a Alexandre uma série de figuras de cera e que acompanhava Alexandre onde ele fosse.
As figuras na caixa pretendiam representar os vários tipos de forças armadas inimigas
que Alexandre provavelmente encontraria opostas a ele, de modo que sua vitória
estaria garantida desde recitasse as palavras sagradas junto as estatuas de
cera. O poeta Theócritus (305 a.c. - 260 a.c.) mostra que os gregos fizeram uso
de figuras de cera em uma data antiga, tal como relatado em Pharmakeutria (1.
27 e segs.), a senhora girando sua roda diz: “Assim como eu derreto esta cera,
com a ajuda do deus, tão rapidamente ele pode por amor ser derretido!”.
[1] RITNER, Robert. The mechanics of ancient magical practice. The Oriental
Institute of the University of Chicago: Illinois, 1993, p.8 https://oi.uchicago.edu/research/publications/saoc/saoc-54-mechanics-ancient-egyptian-magical-practice-fourth-printing-2008
[2] JACQ, Christian. O
mundo mágico do antigo Egito, Rio de Janeiro:Bertrand do Brasil, 2001, p.19
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