Na gruta de Trois Frères (Três
irmãos), com entrada de corredores estreitos, é encontrada uma imagem de um
ser metade humano metade animal que pode ser a representação de um feiticeiro[1] (figura) datada de 13 mil a.c[2]. Seu olhar frontal
contrasta com os demais animais sempre representados de perfil. A pintura
reproduzida, no entanto, tem recebido muitas críticas por ser uma reprodução
imprecisa do original feita por Henri Breuil, especialmente pela ausência dos
chifres. Louis Leakey observa que a figura representada em pintura e gravação
mostra os chifres de um veado, o rosto de uma coruja e as orelhas de um lobo, a
perna dianteira de um urso e um rabo de cavalo[3]. Na gruta Cap Blanc,
próxima a Les Eyzies na França junto com a arte rupestre nas cavernas com representação
de bisões, cavalos e renas foi encontrada o esqueleto de uma mulher de 13 mil
a.c. cerimonialmente enterrada, o que por certo, deveria representar um lugar
de culto para a comunidade. A ideia e um recinto sagrado onde se pudesse cuidar
dos mortos desenvolveu um sentimento de “amor
ao lar” (oikophilia)
estabelecendo laços de pertencimento e contribuindo para sedentarização do
homem.[4] Para Lewis Mumford os
ritos nas cavernas demonstram os mesmos impulsos sociais que levarão aos homens
a se reunir em cidades: “onde todos os
sentimentos originais de medo, reverência, orgulho e alegria seriam ainda mais
ampliados pela arte e multiplicados pelo número de participantes capazes de
responder”.[5] Lewis Mumford
mostra que a caverna paleolítica, a pirâmide, o zigurate, a cripta cristã todos
tem a função de intensificar a experiência emocional: “como a sepultura, a caverna é um útero ao qual o homem primitivo
regressa em busca de segurança e sigilo”.[6] Para René Girard: “Não existe cultura sem túmulo e tampouco túmulo sem cultura; no limite,
o túmulo é o primeiro e único símbolo cultural. É a primeira pirâmide”.[7] Para Mauricio Righi o fato
dos recessos mais profundos das cavernas cobertos pela completa escuridão terem
sido escolhidos pelo homem primitivo para suas pinturas mostra que tais
pinturas compunham um contexto de xamanismo paleolítico de interação com o
mundo espiritual onde provavelmente as comunidades encenavam danças cúlticas,
celebravam encontros cerimoniais e executavam ritos de sangue.[8] Johannes Maringer observa
que a figura humana nas cavernas do paleolítico é representada usando máscaras
de animais usualmente diante do medo que o homem primitivo tinha de ser vítima
de sua própria magia.[9] Para Leilie White todo
comportamento humano se origina no uso dos símbolos. O símbolo é o universo da
humanidade. O sentido de um símbolo só pode ser comunicado pela palavra
articulada que se coloca como a mais importante forma de expressão simbólica
sem a qual não haveria organização social humana. Os instrumentos rituais ou
cerimoniais não teriam sentido sem a palavra, pela qual o homem consegue comunicar
ideias, preservar uma tradição e preservação significa acumulação e progresso, ou
seja, “sem qualquer forma de comunicação simbólica não haveria cultura”.[10]
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