sexta-feira, 17 de junho de 2022

O alquimista Nicolas Flamel

 

Para o alquimista Nicolas Flamel em seu Thresor de Philosophie a alquima “é a ciência dos quatro elementos que se transformam mútua e reciprocamente uns em outros. Todos os filósofos coincidem nesse ponto”.[1] Nicolas Flamel (1330-1417) escreveu sobre a conclusão do trabalho do alquimista, que ele 'transforma o homem em bom, afastando dele a raiz de todos os pecados, especificamente a cobiça. Então ele torna-se generoso, benigno, piedoso, crente e temente a Deus, independentemente de quão mal ele havia sido anteriormente; porque, a partir de então, ele estará sempre cheio da graça e misericórdia com que ele foi recebido por Deus, e com o mais profundo de seus maravilhosos trabalhos”[2]. A camada casa de Flamel ficava na rua de Montmorency em Paris. A conexão de Flamel com a alquimia tornou-se mais evidente quando Robert Duval mostrou os símbolos alquímicos gravados nos prédios que pertenciam a Flamel e que foram doados à Igreja.[3] O Livro das figuras hieroglíficas de Flamel é de 1612 e não há qualquer referência a este texto antes desta data e somente no século XVII o nome de Flamel como alquimista terá maior difusão, muito embora o texto se descreva como uma adaptação de um texto mais antigo escrito em latim por Flamel, proém desconhecido.  No texto segundo Burckhardt: “Os três conjuntos de sete páginas, do livro, relembrava as três principais fases do trabalho – escurecimento, clareamento e avermelhamento – e os sete planetas ou metais. A vara ao redor da qual as duas serpentes estavam enroscadas é a vara de hermes, com as duas forças – enxofre e mercúrio – que governam o eixo espiritual. A cobra crucificada é o símbolo da fixação do mercúrio volátil – a primeira “incorporação” do espírito. A fixação do mercúrio corresponde à subjugação da força vital cada vez mais inquieta, que se dissipa a si mesma em desejos e imaginações. Ao mesmo tempo ela representa a transmutação do pensamento dominado pelo tempo em uma consciência imóvel e atemporal. A cruz na qual a serpente está fixada significa o corpo, não como carne e sensualidade, mas como imagem da lei cósmica, do eixo cósmico imóvel”. Para Laurinda Dixon toda a obra parece muito mais um escrito pós renascentista do que propriamente do início do século XV.[4] A grande obra a ser realizada é a transmutação da alma, uma obra interior segundo o Livro dos sete capítulos atribuído a Hermes: “Veja, eu abri diante de você o que estava escondido: O trabalho [alquímico] está em suas mãos e juntamente com você; na medida em que se encontra dentro de você e é duradouro. Você sempre terá isso presente, onde quer que você esteja, na terra ou no mar...”[5] Titus Burckdardt explica que “Com esse modo 'impessoal' de olhar para o mundo da alma, a alquimia coloca-se em uma relação muito mais próxima com o 'caminho do conhecimento' (gnosis) do que com o 'caminho do amor'. Porque é prerrogativa da gnosis – no sentido genuíno, e não no herético, da expressão – reconquistar a alma individual 'objetivamente', em lugar de experimentá-la apenas subjetivamente. Daí porque trata-se de um misticismo fundado no 'caminho do conhecimento', que por acaso usou modos de expressão alquímicos, se de fato não assimilou de fato as formas da alquimia com os graus e os modos de seu próprio 'caminho'. A expressão 'misticismo' vem de 'segredo' ou 'afastamento' (do grego myein); a essência do misticismo impede uma interpretação meramente racional, e isso soa bem no caso da alquimia”.[6]

[1] DE ROLA, Stanislas. Alquimia. Lisboa:Ed. Del Prado, 1996, p. 17

[2] BURCKHARDT, Titus. Alquimia: ciência do cosmos, ciência da alma. Londres: Fons Vitae, 1967, p. 21

[3] READER’S DIGEST. Os últimos mistérios do mundo, Rio de Janeiro, 2003, p. 84

[4] DIXON, Laurinda. Nicolas Flamel: His Exposition of the Hieroglyphicall Figures (1624). Routledge, 2019; LINDEN, Stanton J. Alchemy and Eschatology in Seventeenth-Century Poetry. Ambix, v. 31, n. 3, p. 102-124, 1984.; PRIESNER, Claus. Legends about Legends: Abraham Eleazar's Adaptation of Nicolas Flamel. Ambix, v. 63, n. 1, p. 1-27, 2016. CALDEIRA. Henrique. Quem foi Nicolau Flamel? | História da Alquimia, 2022, https://www.youtube.com/watch?v=gZDexi41XPw

[5] BURCKHARDT, Titus. Alquimia: ciência do cosmos, ciência da alma. Londres: Fons Vitae, 1967, p. 19

[6] BURCKHARDT, Titus. Alquimia: ciência do cosmos, ciência da alma. Londres: Fons Vitae, 1967, p. 23



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