Para o alquimista Nicolas Flamel em seu Thresor de Philosophie a alquima “é a ciência dos quatro elementos que se
transformam mútua e reciprocamente uns em outros. Todos os filósofos coincidem
nesse ponto”.[1] Nicolas Flamel (1330-1417) escreveu sobre a conclusão do trabalho do alquimista,
que ele 'transforma o homem em bom, afastando dele a raiz de todos os
pecados, especificamente a cobiça. Então ele torna-se generoso, benigno,
piedoso, crente e temente a Deus, independentemente de quão mal ele havia sido
anteriormente; porque, a partir de então, ele estará sempre cheio da graça e
misericórdia com que ele foi recebido por Deus, e com o mais profundo de seus
maravilhosos trabalhos”[2].
A camada casa de Flamel ficava na rua de Montmorency em Paris. A conexão de
Flamel com a alquimia tornou-se mais evidente quando Robert Duval mostrou os
símbolos alquímicos gravados nos prédios que pertenciam a Flamel e que foram
doados à Igreja.[3] O Livro das figuras hieroglíficas de Flamel é de 1612 e não há qualquer
referência a este texto antes desta data e somente no século XVII o nome de
Flamel como alquimista terá maior difusão, muito embora o texto se descreva
como uma adaptação de um texto mais antigo escrito em latim por Flamel, proém
desconhecido. No texto segundo
Burckhardt: “Os três conjuntos de sete páginas, do livro, relembrava as três
principais fases do trabalho – escurecimento, clareamento e avermelhamento – e
os sete planetas ou metais. A vara ao redor da qual as duas serpentes estavam
enroscadas é a vara de hermes, com as duas forças – enxofre e mercúrio – que
governam o eixo espiritual. A cobra crucificada é o símbolo da fixação do
mercúrio volátil – a primeira “incorporação” do espírito. A fixação do mercúrio
corresponde à subjugação da força vital cada vez mais inquieta, que se dissipa
a si mesma em desejos e imaginações. Ao mesmo tempo ela representa a transmutação
do pensamento dominado pelo tempo em uma consciência imóvel e atemporal. A cruz
na qual a serpente está fixada significa o corpo, não como carne e
sensualidade, mas como imagem da lei cósmica, do eixo cósmico imóvel”. Para
Laurinda Dixon toda a obra parece muito mais um escrito pós renascentista do
que propriamente do início do século XV.[4] A grande
obra a ser realizada é a transmutação da alma, uma obra interior segundo o Livro
dos sete capítulos atribuído a Hermes: “Veja, eu abri diante de você o que
estava escondido: O trabalho [alquímico] está em suas mãos e juntamente com
você; na medida em que se encontra dentro de você e é duradouro. Você sempre
terá isso presente, onde quer que você esteja, na terra ou no mar...”[5] Titus Burckdardt explica que “Com esse modo 'impessoal' de olhar para o
mundo da alma, a alquimia coloca-se em uma relação muito mais próxima com o
'caminho do conhecimento' (gnosis) do que com o 'caminho do amor'. Porque é
prerrogativa da gnosis – no sentido genuíno, e não no herético, da expressão –
reconquistar a alma individual 'objetivamente', em lugar de experimentá-la
apenas subjetivamente. Daí porque trata-se de um misticismo fundado no 'caminho
do conhecimento', que por acaso usou modos de expressão alquímicos, se de fato
não assimilou de fato as formas da alquimia com os graus e os modos de seu
próprio 'caminho'. A expressão 'misticismo' vem de 'segredo' ou 'afastamento'
(do grego myein); a essência do misticismo impede uma interpretação meramente
racional, e isso soa bem no caso da alquimia”.[6]
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