Os amuletos egípcios tinham como finalidade proteger o corpo humano, seja de vivos ou mortos, de influências funestas e do ataque de inimigos visíveis ou invisíveis. O termo amuleto tem origem árabe e significa “carregar, transportar” de modo que o amuleto é algo que se deve estar sempre junto ao corpo. Os amuletos podem estar inscritos com uma fórmula mágica, sendo que seu poder reside inerente na substância de que é feito o amuleto e nas palavras nele inscritas (hekau). Os primeiros amuletos egípcios conhecidos são pedaços de xisto verde, de várias formas, animais. e outros, que foram colocados sobre o peito do falecido. Com o tempo os amuletos de formas animais deixaram de ser usados passando a assumir formas geométricas retangulares. O costume de escrever hekau, ou palavras de poder, em papiro é quase tão antigo quanto o de escrevê-los em pedra, e vemos pela inscrição nas paredes dos corredores e câmaras da pirâmide de Unas, rei do Egito, cerca de BC 3300, que um “livro com palavras de poder mágico” foi enterrado com ele.[1] Inumeráveis amuletos possuem inscrições em hieróglifos que significam “vida”, “saúde” ou “duração” o que revela o valor mágico atribuído às joias e as cores da pedras. Em Abidos foi encontrado um simples pente datado de 2920 a.c. que mostra a imagem do rei Zet, cuja menção tinha o poder de afastar os espíritos maus.[2] Entre os amuletos estava o ankh que representa a vida[3] (a alça acima representa o símbolo feminino o ceu, e a cruz em forma de T significa o elemento masculino a terra, representando a união de Ísis com Osíris, do ceu com a terra)[4], o wedjat[5] ou olho de Hórus, símbolo da vigilância protetora, o pilar de Osíris ou djed que significava continuidade[6] (o princípio desta coluna é estar firmemente ereta como prova da superação da morte do decaimento)[7]; o rolo de papiro ou udja que representava a juventude; o nó de Ísis ou tyet[8] que significava a ressurreição dos mortos (o nó representa um ponto de convergência de forças que unem o mundo divino e o mundo humano[9]) , e o cetro de Ptah, was, emblema de poder e prosperidade.[10] O escriba sentado no Museu do Louvre mostra uma técnica aperfeiçoada para confecção dos olhos, assim como a estátua de Rahotep e Nofret no Museu do Cairo da quarta dinastia (2575-2551 a.c) que mostra os olhos incrustados de cristais e quartzo, o que demonstra o desenvolvimento da técnica para representação dos olhos a qual se atribuía um significado místico.[11] Na tumba de Shepseskaf-Ankh, médico egípcio que serviu ao faraó Shepseskaf (c. 2472 a 2467 a.C.), descoberta em Abusir, próximo ao Cairo, em 2013 observa-se nos murais em destaque a representação do símbolo ankh.[12] De acordo com o papiro de Nekhtu-Amen o amuleto do coração é feito de lápis lazúli na forma de escaravelho. O capítulo XXXB do Livro dos mortos datado de 4300 a.c. é ordenado que as palavras do amuleto do coração sejam recitadas sobre um escaravelho de pedra dura e verde, que será colocado no peito do falecido, onde normalmente estaria o coração; este amuleto realizaria então para ele a “abertura da boca”, pois as palavras do Capítulo seriam de fato “palavras de poder”. Em alguns raros exemplos o escaravelho tinha uma face de cabeça humana em que no verso se encontravam figuras como o barco de Rá, o pássaro Bennu, a alma de Rá e o olho de Horus [13]
[1] BUDGE, E. A. Wallis; Livros Bauer. Egyptian magic (pp. 16). Edição do Kindle
[2] TIRADRITTI, Francesco.
Tesouros do Egito do Museu egípcio do Cairo, White Star Pub, 1998, p.44
[3] JAMILLE, Marcia.
Amuletos Egípcios | Ankh, Wedjat, deuses, Livros dos Mortos e etc, minuto 16:00
https://www.youtube.com/watch?v=9cUdVkD3GAk
[4] O’CONNEL, Mark, AIREY,
Raje. Almanaque ilustrado dos símbolos. São Paulo:Escala, 2010, p.15
[5] STROUHAL, Eugen. A vida
no antigo Egito. Barcelona:Folio, 2007, p. 251; WHITE, Jon Manchip. O Egito
Antigo, Rio de Janeiro:Zahar, 1966, p. 87
[6] LANGE, Kurt. Pirâmides,
esfinges e faraós, Belo Horizonte:Itatiaia, 1958, p. 133
[7] CLARK, Rundle. Símbolos
e mitos do Antigo Egito, São Paulo:Hemus, (s.d.), p.239
[8] JAMILLE, Marcia. O
amuleto da deusa Ísis: conheça o Tyet! https://www.youtube.com/watch?v=Aw5CYFOzhiM
[9] JACQ, Christian. O
mundo mágico do antigo Egito, Rio de Janeiro:Bertrand do Brasil, 2001, p.78
[10] STROUHAL, Eugen. A vida
no antigo Egito. Barcelona:Folio, 2007, p. 83
[11] MALKOWSKI, Edward. O
Egito antes dos faraós. São Paulo:Cultrix, 2010, p. 92; DONADONI, Sergio. Museu
Egípcio do Cairo, São Paulo: Mirador, 1969, p. 31
[12] https://www.fascinioegito.sh06.com/shepseskaf_ankh.htm
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