quinta-feira, 16 de junho de 2022

A invenção do rádio

As ondas eletromagnéticas propostas por Maxwell em 1873 permaneciam até então sem uma comprovação científica já que a onda curta e a alta frequência da luz tornavam suas propriedades impossíveis de serem medidas. [1]Em seu início havia um grande descrédito das perspectivas das ondas eletromagnéticas como meios de comunicação. Marconi começou suas experiências com ondas de rádio em 1890 logo após a descoberta de Henrich Hertz que preveniu Marconi que suas experiências estavam destinadas ao fracasso e que eram perda de tempo. Lord Kelvin aconselhou ao físico Ernest Rutherford em início de carreira a que não investisse nas ondas hertezianas por não visualizar qualquer aplicação prática das mesmas sugerindo a pesquisa em radioatividade.[2] Rutherford trabalhava no Laboratório Cavendish, em Cambridge (Inglaterra) onde finalizou um detector que podia captar ondas eletromagnéticas a até 800 m. Segundo John Heilbron o cientista tentou obter uma patente, porém não dispunha dos recursos financeiros[3].

O inglês Oliver Lodge desenvolveu um aparelho para detecção de ondas de rádio, previstas pelo alemão Heinrich Hertz, utilizando um dispositivo no receptor chamado de coesor inventado por Edouard Branly em 1890 (um tubo de vidro cheio de limalha de ferro capaz de se agrupar, e assim alterar sua resistência elétrica, quando da presença de ondas de rádio) tendo realizado uma apresentação pública no Royal Institution em 1894. Ele transmitiu sinais de rádio em 14 de agosto de 1894 em um encontro da Associação Britânica para o Avanço da Ciência na Universidade de Oxford, um ano antes de Guglielmo Marconi, mas um ano após Nikola Tesla. Lodge por sua vez, mesmo tendo patenteado sua invenção não fez o enforcement da mesma.[5] Sua patente US609154 referente a telegrafia sem fio utilizando a bobina de Ruhmkorff ou Tesla como transmissor e o coesor de Branly como detetor, a patente de "sintonização" de agosto de 1898 foi vendida a Marconi em 1912.[6] Roger Cullis aponta o fato de que a Inglaterra detinha o controle das transmissões por cabo submarino assim como os correios detinham o monopólio das comunicações telegráficas e telefônicas pelo Telegraph Act de forma que não havia grande interesse pela tecnologia de transmissão sem fio. [7] William Henderson contudo aponta que os correios britânicos promoveram o desenvolvimento da tecnologia de telegrafia sem fio.[8]

O russo Alexander Popov implementou no coesor um pequeno badalo, que batia levemente na limalha de ferro do coesor, preparando assim o dispositivo automaticamente para novas recepções e realizou experiências de transmissão por rádio, bem sucedidas junto a Sociedade Físico Química Russa em 1895. [9]

O indiano Chandra Bose, aperfeiçoou o coesor utilizando mercúrio, em 1899. Utilizando o coesor de Lodge e Popov, Marconi incorporou uma placa de metal afixada à ponta do coesor de modo a melhorar a recepção dos sinais, constituindo uma antena, que permitiu a transmissão de sinais a grandes distâncias, culminando com o envio de sinais de rádio da Europa aos Estados Unidos em 1901, desta vez já utilizando o coesor de Bose. Em 1900 Marconi depositou a patente GB7777 para um rádio com sintonia, capaz de selecionar os sinais de rádio a serem recebidos, garantindo assim a possibilidade de múltiplas transmissões simultâneas. Esta técnica já havia sido, contudo, patenteada pelo croata Nikola Tesla em 1897.

Usando uma tecnologia distinta, sem o emprego do coesor, mas o centelhamento de uma bobina de RuhmKoff, o padre brasileiro Landell de Moura conseguiu transmitir sinais de voz (e não apenas telegrafia como a experiência de Marconi em 1901) em uma exibição realizada na Avenida Paulista, em São Paulo em 1900 e solicitou patente nos Estados Unidos dois anos após (US775337).


[1] HART DAVIS, Adam. O livro da Ciência, São Paulo:Globo Livros, 20144, p. 184

[2] READERS'S DIGEST, História dos grandes inventos, Portugal, 1983, p.62

[3] LEITE, Cássio Vieira, História da Física: artigos, ensaios e resenhas, Rio de Janeiro:CBPF, 2015, p.15 http://mesonpi.cat.cbpf.br/escola2015/downloads/material/historia_da_fisica.pdf

[4] SEDGWICK, W.; TYLER, H; BIGELOW, R. História da ciência: desde a remota antiguidade até o alvorescer do século XX, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1952, p.348

[5] CULLIS, Roger. Patents, inventions and the dynamics of innovation: a multidisciplinary study, Edgard Elgar, 2007, p.49

[6] http://pt.wikipedia.org/wiki/Oliver_Lodge

[7] CULLIS, Roger. Patents, inventions and the dynamics of innovation: a multidisciplinary study, Edgard Elgar, 2007, p.88, 151

[8] HENDERSON, William. A revolução industrial, São Paulo:Edusp, 1979, p.59

[9] CAMP, Sprague. A história secreta e curiosa das grandes invenções.Rio de Janeiro:Lidador, 1964, p. 318




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