sábado, 21 de maio de 2022

A metempsicose na doutrina de Pitágoras

 

Jâmbiclo comenta um episódio da vida de Pitágoras: “Percebendo também um boi em Tarentum se alimentando no pasto e comendo, entre outras coisas, feijão verde, ele aconselhou o pastor para dizer ao boi que se abstenha do feijão. O pastor, no entanto, riu para ele, e disse que não entendia a língua dos bois, mas se Pitágoras entendia, foi em vão aconselhá-lo a falar com o boi, mas convém que ele mesmo aconselhasse o animal se abstenha de tal alimento. Pitágoras, portanto, aproximando-se do ouvido do boi, e sussurrando nele por muito tempo, não só o fez se abster de feijão, mas diz-se que ele nunca mais os provou. Este boi também viveu por muito tempo em Tarentum perto do templo de Juno, onde permaneceu quando era velho, e foi chamado o boi sagrado de Pitágoras. [...] Por essas coisas, portanto, e outras semelhantes a estas, ele demonstrou que ele possuía o mesmo domínio que Orfeu, sobre os animais selvagens, e que ele seduziu e os deteve pelo poder da voz procedente da sua boca”. Xenófones de Colofone no século VI a.c. se refere a outra lenda sobre Pitágoras: “dizem que certa vez Pitágoras passou por um cão que estava sendo surrado e, apiedando-se, assim falou: parem e não batam nele, pois a alma é a de um amigo, sei-o, pois o ouvi falar”, em referência à sua crença na transmigração das almas[1]. Ovídio apresenta Pitágoras como tendo dito a seus discípulos: “As almas não morrem jamais, mas sempre deixam uma morada para passar à outra. Eu mesmo me lembro de que na época da guerra de Troia fui Eufórbio, filho de Pantos e caí pela lança de Menelau. Há pouco visitando o templo de Juno em Argos, reconheci meu escudo pendurado entre os troféus. Todas as coisas mudam, nada perece. A alma passa daqui para ali, ocupando ora este corpo, ora aquele, indo do corpo de uma animal para o de um homem, e deste para o de um animal novamente. Do mesmo modo que se gravam na cera certas figuras, depois se derrete a cera e se gravam outras, assim a alma, sendo sempre a mesma, apresenta, contudo, em ocasiões diferentes, formas diferentes. Portanto, se o amor do próximo não estiver extinto de vossos corações, abstende, recomendo-vos de violar a vida daqueles que podem ser vossos próprios parentes”. [2]



[1] LIVIO, Mario. Deus é matemático ? , Rio de Janeiro:Record, 2010, p. 41

[2] BULFINCH, Thomas. O livro de ouro da mitologia, Rio de Janeiro: Ediouro, 2003, p. 342



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