Jâmbiclo comenta
um episódio da vida de Pitágoras: “Percebendo também um boi em Tarentum se
alimentando no pasto e comendo, entre outras coisas, feijão verde, ele
aconselhou o pastor para dizer ao boi que se abstenha do feijão. O pastor, no
entanto, riu para ele, e disse que não entendia a língua dos bois, mas se Pitágoras
entendia, foi em vão aconselhá-lo a falar com o boi, mas convém que ele mesmo
aconselhasse o animal se abstenha de tal alimento. Pitágoras, portanto,
aproximando-se do ouvido do boi, e sussurrando nele por muito tempo, não só o
fez se abster de feijão, mas diz-se que ele nunca mais os provou. Este boi
também viveu por muito tempo em Tarentum perto do templo de Juno, onde
permaneceu quando era velho, e foi chamado o boi sagrado de Pitágoras. [...] Por
essas coisas, portanto, e outras semelhantes a estas, ele demonstrou que ele
possuía o mesmo domínio que Orfeu, sobre os animais selvagens, e que ele
seduziu e os deteve pelo poder da voz procedente da sua boca”. Xenófones de
Colofone no século VI a.c. se refere a outra lenda sobre Pitágoras: “dizem
que certa vez Pitágoras passou por um cão que estava sendo surrado e,
apiedando-se, assim falou: parem e não batam nele, pois a alma é a de um amigo,
sei-o, pois o ouvi falar”, em referência à sua crença na transmigração das
almas[1]. Ovídio
apresenta Pitágoras como tendo dito a seus discípulos: “As almas não morrem
jamais, mas sempre deixam uma morada para passar à outra. Eu mesmo me lembro de
que na época da guerra de Troia fui Eufórbio, filho de Pantos e caí pela lança
de Menelau. Há pouco visitando o templo de Juno em Argos, reconheci meu escudo
pendurado entre os troféus. Todas as coisas mudam, nada perece. A alma passa
daqui para ali, ocupando ora este corpo, ora aquele, indo do corpo de uma
animal para o de um homem, e deste para o de um animal novamente. Do mesmo modo
que se gravam na cera certas figuras, depois se derrete a cera e se gravam
outras, assim a alma, sendo sempre a mesma, apresenta, contudo, em ocasiões
diferentes, formas diferentes. Portanto, se o amor do próximo não estiver
extinto de vossos corações, abstende, recomendo-vos de violar a vida daqueles
que podem ser vossos próprios parentes”. [2]
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