sábado, 16 de abril de 2022

Tabua de Esmeralda

 

Hermes Trimegisto segundo uma tradição esotérica teria adquirido conhecimentos arcanos do deus Toth[1] no Egito da época de Moisés[2]. Os gregos Zosimo (século III), o neoplatônico Stefano de Alexandria (século VI) e Olimpiodoro (século VI) se referem aos trabalhos de Hermes.[3] Olimpiodoro e Stefano, contudo, são pensadores que não desenvolvem qualquer trabalho prático em alquimia[4]. Diversos autores cristãos como Santo Agostinho acreditavam que Hermes teria profetizado o advento de Cristo, reconhecimento também conferido por outros autores cristãos como Lactâncio, Tertuliano, o neoplatônico Plotino e o neopitagórico Apolônio de Tiana. Frances Yates mostra que escritas entre 100 e 300 d.c as obras do Corpus Hermeticum trazem contradições entre ssi entre uma gnose que enxerga a matéria como criação do mal e uma outra gnose que enxerga toda a matéria impregnada da centelha divina, possivelmente por ter sido escrita por diferentes autores. No entanto a Renascença considera obra de uma única pessoa real, possuidora de conhecimentos que remetem a um tempo ainda mais remoto no Antigo Egito, um “formidável erro histórico que teria resultados surpreendentes”.[5] Os escritos mais importantes atribuídos a Hermes são a Tábua de Esmeralda, cuja autoria também atribuída pelo árabe Balinus do século IX a Apolônio de Tiana (15-100 d.c.)[6] ou aos tradutores árabes do século VIII em Bagdá tendo em vista que nenhum manuscrito grego anterior foi encontrado [7], e os textos do Corpus Hermeticum. Na Tábua da Esmeralda – Tabula Esmaragdina - Hermes define sua proposição: “Verdade ! certeza ! aquilo na qual não há qualquer dúvida ! O que é superior é como o que é inferior e o que está embaixo é como o que está em cima para formar as maravilhas/milagres da coisa única - quod est inferius est sicut quod est superius; et quod est superius est sicut quod est inferius – Do mesmo modo que todas as coisas foram criadas de uma só, pela intervenção/meditação de uma só, assim todas as coisas nasceram desta coisa única por apropriação/adaptação”. [8] O texto, que se resume a pouco mais do que uma folha prossegue: “Aquele cujo Sol é o pai, a Lua é a mãe, o vento o embalou em seu ventre, a Terra é sua nutridora; O Pai de toda Telesma do mundo está nisto. Seu poder é pleno, se é convertido em Terra. Separarás a Terra do Fogo, o sutil do denso, suavemente e com grande perícia. Sobe da terra para o Céu e desce novamente à Terra e recolhe a força das coisas superiores e inferiores. Desse modo obterás a glória do mundo. E se afastarão de ti todas as trevas. Nisso consiste o poder poderoso de todo poder: Vencerás todas as coisas sutis e penetrarás em tudo o que é sólido. Assim o mundo foi criado. Esta é a fonte das admiráveis adaptações aqui indicadas. Por esta razão fui chamado de Hermes Trismegisto, pois possuo as três partes da filosofia universal. O que eu disse da Obra Solar é completo.“ Segundo Stanislas de Rola “Diz-se isto porque a pedra está dividida em duas partes principais pelo magisterium [a Obra]: a parte superior, que ascende, e a parte inferior, que permanece abaixo, claro, fixa. E, no entanto, estas duas partes tem a mesma virtude [...] a parte inferior é a Terra, chamada ama de leite e fermento, e a parte superior é a alma, que vivifica e faz ressuscitar a pedra inteira”.[9] Lawrence Principe discute quem seria “aquele cujo pai é o sol” ? Para gerações de alquimistas a Tábua de Esmeralda se refere neste trecho a pedra filosofal, agente da transmutação dos metais, de modo que o texto tem oculto a codificação de como preparar tal pedra filosofal.

[1] BRAGA, Marco; GUERRA, Andreia; REIS, Jose Claudio. Breve historia da ciência moderna, v.I, Rio de Janeiro:Zahar, 2011, p. 82

[2] YATES, Frances. Giordano Bruno e a tradição hermética, São Paulo:Cultrix, 1995, p. 33

[3] THORNDIKE, Lynn. A History of magic and experimental science, v.I, Columbia University Press, 1923, p.292

[4] PRINCIPE, Lawrence. The secrets of alchemy, Chicago: Univ Chicago Press, 2013, p.25

[5] YATES, Frances. Giordano Bruno e a tradição hermética, São Paulo:Cultrix, 1995, p. 18

[6] GOLDFARB, Da alquimia à química, Sâo Paulo:Edusp, 1987, p.25

[7] PRINCIPE, Lawrence. The secrets of alchemy, Chicago: Univ Chicago Press, 2013, p.30

[8] LÉVI, Éliphas. História da magia, São Paulo:Pensamento, 2010, p.68; CANTU, Cesare. História Universal, volume XIV, São Paulo:Editora das Américas, 1955, p. 366; DE ROLA, Stanislas. Alquimia. Lisboa:Ed. Del Prado, 1996, p. 14; YATES, Frances. Giordano Bruno e a tradição hermética, São Paulo:Cultrix, 1995, p. 174; PRINCIPE, Lawrence. The secrets of alchemy, Chicago: Univ Chicago Press, 2013, p.31

[9] DE ROLA, Stanislas. Alquimia. Lisboa:Ed. Del Prado, 1996, p. 16



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