sexta-feira, 15 de abril de 2022

Ouroboros

 

Os manuscritos herméticos medievais, tais como Marcianus graecus 299[1] são ilustrados com frequência pelo dragão ouroboros, símbolo da eternidade[2], que morde “boros” a própria cauda “oura”, simbolizando a eternidade, acompanhado da mensagem <O uno é o todo> Hen to pan[3]. Na alquimia o ouroboros simboliza a transmutação da matéria, uma vez uma coisa pode se transformar em outra porque em seu nível mais profundo as duas são na verdade a mesma coisa, a serpente ouroboros se consome a si mesmo permanecendo constante na medida em que perpetuamente se destrói e se regenera a si mesmo.[4] No Egito o papiro mágico ilustrado de Brooklyn revela a imagem de um ouroboros[5]. No segundo sarcófago de Tutankhamon são mostrados suas serpentes ouroboros.[6] Ao recriar-se a si mesmo simboliza a matéria em transformação, logo, a própria alquimia. Segundo Julius Evola o símbolo ouroboros represente ao mesmo tempo o Universo e a “Grande Obra”: “A fórmula que expressa esse princípio encontramo-la já na Crisopea de Cleópatra: “Um o Todo” que devemos assimilar a “o Telesma, o Pai de todas as coisas, está aqui” da Tábua de Esmeralda. Não se trata, portanto, neste caso, de uma teoria filosófica (hipótese da redutibilidade de todas as coisas a um princípio único), mas sim de um estado concreto devido a uma certa supressão da lei de dualidade entre o Eu e o não-Eu e entre dentro e fora, que salvo raros instantes domina a comum e mais recente percepção da realidade”.[7] Esta imagem inspirou Kekulé a desvendar a estrutura do benzeno.  

[1] PRINCIPE, Lawrence. The secrets of alchemy, Chicago: Univ Chicago Press, 2013, p.25

[2] HARRIS, J. O legado do Egito, Rio de Janeiro:Imago, 1993, p.174

[3] LAFONT, Olivier. A química. In: COTARDIÈRE, Philippe. História das ciências: da antiguidade aos nossos dias, Rio de Janeiro:Saraiva, 2011, p.147

[4] LEXIKON, Herder. Dicionário de símbolos, São Paulo:Cultrix, 1990, p. 150; PRINCIPE, Lawrence. The secrets of alchemy, Chicago: Univ Chicago Press, 2013, p.25

[5] JACQ, Christian. O mundo mágico do antigo Egito, Rio de Janeiro:Bertrand do Brasil, 2001, p.110

[6] CLARK, Rundle. Símbolos e mitos do Antigo Egito, São Paulo:Hemus, (s.d.), p.75, 76

[7] EVOLA, Julius, A tradição hermética. Lisboa: Edições 70, 1971, p. 37



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