quarta-feira, 6 de abril de 2022

Os cartuchos, Napoleão e a decifração dos hieróglifos

 

A decifração da cartucha encontrada no obelisco de Filae pelo físico britânico Thomas Young (1773-1829) com trabalhos em óptica e que representa os nomes de Cleópatra e Ptolomeu[1] foi fundamental para Champollion decifrar os hieróglifos da Pedra de Rosetta (hoje no Museu Britânico[2] trazida em 1802 após a captura dos franceses) pois as mesmas cartuchas são identificadas na pedra descoberta na campanha de Napoleão em 1799 no Egito[3]. Zoega reconheceu que nas cartuchas que envolviam em um retângulo ovalado alguns nomes vereiam estar se referindo a nomes importantes de faraós. Joahan Akerblad que conseguiu identificar alguns nomes nas primeiras linhas da pedra tais como Ptolomeu. Yong utilizou o trabalho destes egiptólogos para suas conclusões.[4] Antes de Champollion alguns eruditos como Tandeau de Saint Nicholas acreditavam que os hieróglifos não eram uma forma de escrita mas puramente ornamentais.[5] Os hieróglifos começam como gravuras inscritas na pedra, marco da vitória da habilidade egípcia sobre a matéria.[6] A pedra registra o decreto de Mênfis do período de Ptolomeu V (196 a.c.) escrita em grego, demótico egípcio[7] e hieróglifo egípcio.[8] Champollion compreendeu que as representações dos hieróglifos não eram ideogramas mas símbolos fonéticos o que levou a uma correspondência com as letras gregas.[9] A palavra cartucha é de origem francesa cartouche atribuída pelos soldados de Napoleão pelo fato dessas formas ovais assemelharem-se a cartuchos de fuzil.[10] Na língua egípcia o cartucho era designado "chenu".

[1] ROSSI, Renzo. Tutankamon, Lisboa:Público, 2009, p.170; EYDOUX, Henri Paul. Á procura dos mundos perdidos, São Paulo:Melhoramentos, 1967, p. 17

[2] British Museum Guide, London, 1976, p.27

[3] CASSON, Lionel. O antigo Egito. Rio de Janeiro:José Olympio, 1969, p.163; JOHNSON, Paul. História Ilustrada do Egito. Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p. 364; WEST, John Anthony. The traveler’s key to ancient Egypt, New York:Quest, 2012, p. 36

[4] GRINBERG, Carl. O império das pirâmides, História Universal, v.2, Santiago: Europa América,1989, p. 20

[5] BERLITZ, Charles. As línguas do mundo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p. 128

[6] JOHNSON, Paul. História Ilustrada do Egito. Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p. 280

[7] KI-ZERBO, Joseph, História geral da África, I: Metodologia e pré-história da África, Brasília : UNESCO, 2010, p.67

[8] STROUHAL, Eugen. A vida no antigo Egito. Barcelona:Folio, 2007, p. 217; British Museum Souvenir Guide, Belgium, 2004, p.29

[9] ULRICH, Paul. Os grades enigmas das civilizações desaparecidas, Grécia, Roma e Oriente Médio, Rio de Janeiro, Otto Pierre Ed, 1978, p.177

[10] WHITE, Jon Manchip. O Egito Antigo, Rio de Janeiro:Zahar, 1966, p. 167



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