sábado, 2 de abril de 2022

O império romano e o processo de romanização dos territórios

 

Greg Woolf observa que até o fim da República (27 a.c.) o termo imperium significava comando e somente mais tarde passou a ter o significado de territórios controlados por Roma.[1] Historiadores do início do século XX como Francis Haverfield em sua obra A romanização da Bretanha romana ou Camille Julian em História da Gália descrevem o avanço do império romano como uma vitória da civilização contra a barbárie.[2] Uma visão crítica será apresentada por Richard Hingley em O Imperialismo Romano : Novas Perspectivas a Partir da Bretanha que mostra que a romanização que mostra a supremacia da civilização romana sobre os povos bárbaros foi uma perspectiva profundamente vinculada à visão inglesa imperialista: “o império romano torna-se uma série por demais variável de grupos locais, mantidos juntos, de forma rude, pelas forças direcionais de integração que formavam um todo organizado que sobreviveu por vários séculos. A heterogeneidade torna-se uma força que ata a estabilidade imperial – uma ferramenta destinada á criação de uma ordem imperial perpétua”.[3] Sian Jones mostra que não há dados factuais e neutros na história e que todas as pesquisas têm uma natureza política implícita, de modo que o conceito de romanização deve ser entendido como vinculado ao de aculturação. Edward Said em Orientalismo: O Oriente como invenção do Ocidente publicado em 1978 mostra como o próprio conceito de Oriente forjado a partir do século XVIII para designar as terras do leste da Europa sob o mesmo signo do exotismo e da inferioridade, foi uma construção do Ocidente. Mary Beard, por sua vez, mostra como o poderio do império romano pode se estabelecer devido a flexibidade com que as novas áreas conquistadas eram integradas: “O que se pode afirmar com certeza é que os romanos praticamente não fizeram nenhuma tentativa, mesmo durante essa fase mais tranquila de controle imperial [Pax Romana], de impor suas normas culturais ou erradicar as tradições locais”[4], tendo como exceção os druidas na Britânica acusados de sacrifícios humanos e os cristãos.

[1] WOOLF, Greg. Roma: a história de um império,São Paulo: Cultrix, 2017, p.43

[2] GUARINELLO, Norberto Luiz. História Antiga. São Paulo: Contexto, 2020, p.39

[3] MENDES, Norma Musco. A experiência imperialista romana como campo de reflexão comparativa, p. 249; GARRAFFONNI, Renata Senna. Considerações sobre a busca do Antigo no Brasil. p.268. In: ROSA, Claudia Beltrão, et. Al. A busca do antigo, Rio de Janeiro: Nau Editora, UNIRIO, 2011.

[4] BEARD, Mary. SPQR: uma história da Roma Antiga, São Paulo: Planeta, 2010, p. 481



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