Greg Woolf observa que até o fim da República (27
a.c.) o termo imperium significava comando e somente mais tarde
passou a ter o significado de territórios controlados por Roma.[1] Historiadores
do início do século XX como Francis Haverfield em sua obra A romanização da
Bretanha romana ou Camille Julian em História da Gália descrevem o
avanço do império romano como uma vitória da civilização contra a barbárie.[2] Uma
visão crítica será apresentada por Richard Hingley em O Imperialismo Romano :
Novas Perspectivas a Partir da Bretanha que mostra que a romanização que
mostra a supremacia da civilização romana sobre os povos bárbaros foi uma
perspectiva profundamente vinculada à visão inglesa imperialista: “o império
romano torna-se uma série por demais variável de grupos locais, mantidos juntos, de forma rude, pelas forças direcionais de integração que formavam um
todo organizado que sobreviveu por vários séculos. A heterogeneidade torna-se
uma força que ata a estabilidade imperial – uma ferramenta destinada á criação
de uma ordem imperial perpétua”.[3] Sian
Jones mostra que não há dados factuais e neutros na história e que todas as
pesquisas têm uma natureza política implícita, de modo que o conceito de
romanização deve ser entendido como vinculado ao de aculturação. Edward Said em
Orientalismo: O Oriente como invenção do Ocidente publicado em 1978
mostra como o próprio conceito de Oriente forjado a partir do século XVIII para
designar as terras do leste da Europa sob o mesmo signo do exotismo e da inferioridade,
foi uma construção do Ocidente. Mary Beard, por sua vez, mostra como o poderio
do império romano pode se estabelecer devido a flexibidade com que as novas
áreas conquistadas eram integradas: “O que se pode afirmar com certeza é que
os romanos praticamente não fizeram nenhuma tentativa, mesmo durante essa fase
mais tranquila de controle imperial [Pax Romana], de impor suas normas
culturais ou erradicar as tradições locais”[4], tendo
como exceção os druidas na Britânica acusados de sacrifícios humanos e os
cristãos.
[1] WOOLF, Greg. Roma: a história de um império,São Paulo: Cultrix, 2017, p.43
[2] GUARINELLO, Norberto
Luiz. História Antiga. São Paulo: Contexto, 2020, p.39
[3] MENDES, Norma Musco. A
experiência imperialista romana como campo de reflexão comparativa, p. 249; GARRAFFONNI,
Renata Senna. Considerações sobre a busca do Antigo no Brasil. p.268. In: ROSA,
Claudia Beltrão, et. Al. A busca do antigo, Rio de Janeiro: Nau Editora,
UNIRIO, 2011.
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