domingo, 24 de abril de 2022

Anaxágoras

 

Segundo Anaxágoras, que gozou de grande reputação como físico, matemático, astrônomo e metereologista, em sua obra Sobre a Natureza[1], o espirito, a razão divina, inteligência (nous)[2] está presente nas coisas como nos animais e na natureza: “as coisas tem parte de tudo, mas o espírito (nous) é ilimitado, autônomo, e não está misturado com nenhuma coisa”[3]. Anaágoras foi preso por impiedade ao assegurar que o Sol não era uma divindade, mas uma pedra incandescente. Péricles, que foi seu aluno, conseguiu libertá-lo da prisão.[4] Anaxágoras expõe o princípio da homeomerias invisíveis ou sementes, segundo o qual “o que existe, a matéria individual, se constitui em si a partir de si mesmo de partes iguais que são”,[5] o que explica que um mesmo alimento possa nutrir os diversos tecidos e órgãos do corpo[6], ou seja, a carne se compõe de pequenas partes de carne, o ouro de pequenas partes de ouro, o que contrapõe a doutrina dos quatro elementos de Empédocles. Para Heráclito tudo se compõe a partir do fogo e nele se resolve[7], o fogo é transformação, mudança, o elemento vivificante, alma[8]. Para Montaigne: “Anaxágoras foi o primeiro a afirmar que a maneira pela qual alguma coisa existe e se conduz decorre da força e da razão de um espírito infinito”.[9]

[1] MONTANELLI, Indro. História dos gregos, São Paulo:Ibrasa,1962, p. 191

[2] HALL, Edith. The ancient greeks, London:Vintage, 2015, p.118

[3] SOUZA, José Cavalcante. Os pré socráticos: fragmentos, doxografia e comentários. Coleção os pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1985, p. 260

[4] BOYER, Carl. História da matemática, São Paulo: Edgrad Blucher, 1996, p. 44

[5] SOUZA, José Cavalcante. Os pré socráticos: fragmentos, doxografia e comentários. Coleção os pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1985, p. 270

[6] MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo: desde Aristóteles até os neoplatônicos, São Paulo: Mestre Jou, 1973, p. 241

[7] SOUZA, José Cavalcante. Os pré socráticos: fragmentos, doxografia e comentários. Coleção os pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1985, p. 76; LINDBERG, David C. The Beginnings of Western Science. University of Chicago Press. Edição do Kindle. 2007, p.29

[8] SOUZA, José Cavalcante. Os pré socráticos: fragmentos, doxografia e comentários. Coleção os pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1985, p. 96

[9] SOUZA, José Cavalcante. Os pré socráticos: fragmentos, doxografia e comentários. Coleção os pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1985, p. 288



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