No
XIV Sermão do Rosário depois de descrever o sacrifício dos escravos na vida no
engenho equiparando-o ao próprio inferno ainda assim Antonio Vieira comenta que
“deveis dar infinitas graças a Deus,
por vos haver dado conhecimento de si e por vos haver tirado de vossas terras,
onde vossos pais e vós vivíeis como gentios, e vos ter trazido a esta, onde
instruídos na fé vivais como cristãos e
vos salveis”. Para o padre Antonio Vieira a vinda como escravos era a
libertadora da vida como gentio.[1] Para Antonio Vieira a glória dos pretos era sua condição de escravo na qual
podia igualar seus sofrimentos aos de Cristo. Sua condição de exílio no Brasil
que poderia à primeira vista parecer um desterro “não é senão milagre, e grande milagre!”.
Segundo Antonio Vieira: “em um engenho sois imitadores de Cristo Crucificado
porque padeceis em um modo muito semelhante o que mesmo Senhor padeceu na sua
cruz em toda sua paixão. A sua cruz foi composta de dois madeiros e a vossa em
um engenho é de três. Também ali não faltaram as canas, porque duas vezes
entraram na paixão: uma vez servindo para o cetro de escárnio e outra vez para
a esponja em que lhe deram o fel. A paixão de Cristo parte de noite foi de
noite sem dormir, parte foi de dia sem descansar e tais são as vossas noites e
os vossos dias. Cristo despido e vós despidos, Cristo sem comer e vós famintos,
Cristo em tudo maltratado e vós maltrados em tudo. Os ferros, as prisões, os
açoites, as chagas, os nomes afrontosos, de tudo isto se compõe a vossa
imitação se forma acompanhada de paciência, também terá merecimento de
martírio. Só lhe faltava a cruz para a inteira e perfeita semelhança o nome de
engenho. Mas este mesmo lhe deu Cristo não com outro senão o próprio vocábulo:
torcular se chama o vosso engenho, a vossa cruz, e de Cristo por boca do mesmo
Cristo se chamou também torcular calcavi solus”[2].
Antonio Vieira se refere a profecia de Isaias sobre o Messias quando se refere
ao lagar, ou seja, moinho para espremer as azeitonas e fazer azeite: torcular
calcavi solus – eu pisei no lagar.
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