Na Universidade de Paris do início
do século XIII os franciscanos adotavam um ensino baseado em Aristóteles,
Platão e Santo Agostinho bem como seus comentadores muçulmanos como o
neoplatônico Avicena[1],
enquanto os dominicanos preferiam um aristotelismo mais rigoroso e determinista
de Averrois.[2] Daniel Rops observa que para São Boaventura nos passos de Santo Agostinho, ao
contrário de São Tomás de Aquino, a demonstração das verdades da fé é
suficiente, pois, não acredita que a razão, por si só, possa conduzir a Deus. [3]
Para Aristóteles o cosmos não teria um início ou fim, sendo eterno, em
contraposição a cosmologia evolucionária dos pré socráticos. Este era um dos
pontos de tensão com a doutrina cristã, baseada no relato bíblico do Genesis
que claramente define um momento de criação do universo. Para Aristóteles o
universo assume uma natureza imutável e que segue uma cadeia de acontecimentos
que seguem uma relação de causa e efeito, com pouco espaço para rompimento desta
relação natural e, portanto, para existência de milagres. Um terceiro aspecto
da doutrina de Aristóteles era sua conexão com doutrinas astrológicas e a
influência dos astros nos destinos da pessoa, que ameaçavam a liberdade de
escolha do ser humano, o seu livre arbítrio, essencial para a doutrina cristã
de pecado e necessidade de salvação. Estes três aspectos deterministas conferiam
ao aristotelismo, tal como ensinado no século XIII, pontos de tensão com a
doutrina cristã. Nesta perspectiva determinista de Aristóteles a alma está invariavelmente
conectada ao corpo, da mesma forma que a qualidade de estar afiado um machado
só faz sentido enquanto o machado fisicamente existir, de modo que na morte o
indivíduo se desintegra e simplesmente cessa de existir, o que é claramente
incompatível com a doutrina da imortalidade da alma. Na interpretação alternativa
de Averrois conhecida como monopsiquismo, a parte imortal da alma é aquela compartilhada
por todos os seres humanos, esta sobreviveria à morte, mas não a alma individual
pessoal.
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