quarta-feira, 2 de março de 2022

A autonomia da universidade medieval

 

Bolonha (1158) e Paris (1200) surgiram de escolas já existentes no mesmo local enquanto Cambridge (1029) surgiu de Oxford, e Pádua (1222) foi derivada de Bolonha, de modo que não é possível uma data precisa de de fundação destas primeiras universidades sendo que algumas destas não tinham uma localização fixa podendo ser transferida de um local para outro em função dos benefícios municipais para sua instalação sendo tal patrocínio garantido com relativo autonomia na maior parte das vezes[1]. Segundo David Lindberg: “Certamente o mestre que se especializou nas ciências naturais não se consideraria restringido ou oprimido pela autoridade antiga ou religiosa”.[2] Bolonha dominou a ciência do direito no século XII tendo sua influência diminuído com as universidades que se seguiram tendo muitos de seus professores discípulos de Bolonha como Placentino em Montpellier e Vacarius em Oxford. Na segunda metade do século XIII a Universidade de Orleans promoveu uma renovação do método dos romanistas. Todos os professores de Orleans eram eclesiásticos e sua universidade era sobretudo uma escola superior para o clero destacando-se como professores Jacques de Revigny e Pierre de Bleperche.[3] Nápoles (1224) e Toulouse (1229) surgiram a partir de bulas papais.[4] Ruy Afonso observa que a disseminação de universidades nos séculos XIV e XV fez com que as universidades mais ilustres com as de Bolonha e de Paris perdessem seu caráter internacional de acolher estudantes de diferentes regiões [5]. Frederico I, publicou em 1158 um Privilegium scholasticum que garantia salvo conduto aos professores de Bolonha em suas viagens. A Universidade de Paris tem sua origem nas antigas escolas catedrais como as de Paris, Chartres, Rheims, Orleães, Canterbury e outras cidades “onde o espírito do verdadeiro humanismo se manifestava no entusiasmo com que eram estudados os autores antigos e na produção de versos em latim cuja qualidade era realmente extraordinária”.[6]

[1] LINDBERG, David C. The Beginnings of Western Science. University of Chicago Press. Edição do Kindle. 2007, p.217

[2] LINDBERG, David C. The Beginnings of Western Science. University of Chicago Press. Edição do Kindle. 2007, p.224

[3] GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 1986, p. 345

[4] JÚNIOR, Hilário Franco. A idade média nascimento do Ocidente, São Paulo:Brasiliense, 2004, p.118

[5] NUNES, Ruy Afonso da Costa. História da educação na idade média, Campinas:Kirion, 2018, p.250

[6] HASKINS, Charles. A ascenção das universidades, São Paulo: Danúbio, 2015, p.583/1743



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