Para Carleton Coon o domínio do fogo é o que distingue o homem dos
demais animais.[1] Segundo Jean Piveteau: “Não é porque
fabrica artefatos que o homo habilis já é humano. Achamos hoje que o artefato
precede o homem, que é um fator de hominização porque seu uso desenvolve o
cérebro. Então homem porque fabricante de artefatos ou fabricante de artefatos
por ser homem ? A pergunta continua sem resposta”.[2] Assim o vestígio de fogo é
uma confirmação que se trata de homem e não de um símio.[3] Com a descoberta do fogo o
homem controlava pela primeira uma força da natureza, tornava-se
conscientemente um criador, como que do nada surge o fogo.[4] Uma hipótese é que o homem
tenha percebido o fogo por incêndios provocados por descargas elétricas ou
vulcões, ou o tenha produzido acidentalmente enquanto confeccionava artefatos
de sílex[5]. Vestígios de fogueiras
foram encontradas em sítios arqueológicos como os de Terra Amata[6], perto de Nice, Menez
Dregan na Bretanha, Vertessaolos na Hungria ou Chu-Ku-Tien (Choukoutien,
Zhoukoudian[7])
na China, próximo de Pequim[8] mostram o domínio do fogo
por volta de 400 mil anos[9] com espessas camadas de
cinza, ossos queimados e carbonizados próximos a uma provável lareira feita pelo
homo erectus e que indica o hábito de
cozinhar a carne antes de ingeri-la[10].
Na Europa as evidências mais remotas do uso do fogo datam de 500 mil anos.[11] Em Portugal a Gruta de
Aroeira possui vestígios de fogueiras de 400 mil anos, na caverna Bolomor na
Espanha de 350 a 100 mil anos, em Biache-Saint-Vaast na França 240 a 170 mil
anos, na caverna Tabun em Israel 350 a 320 mil anos. Katharine MacDonald
argumenta que a difusão do domínio do fogo e a tecnologia de trabalho em pedra
(ou seja, a técnica Levallois desenvolvida há 300 mil anos dominada por
neandertais como homo sapiens) por possuírem um rastro de ampla área geográfica
mostram uma evidência do surgimento da difusão cultural na evolução da
humanidade, indicando que uma característica de comportamento cultural do Homo
sapiens estava em vigor neste momento, em um momento de maior tolerância social
entre diferentes grupos de hominídios: “O fato que o uso regular do fogo
apareceu de forma relativamente rápida em todo o Velho Mundo (Europa) e em
diferentes subpopulações de hominídeos sugere fortemente que o comportamento se
difundiu ou se espalhou a partir de um ponto de origem em vez de do que foi
inventado repetida e independentemente. Evidências adicionais vêm de dados
ambientais. Se o produto for de evolução convergente, espera-se que o uso do
fogo se correlacione com pressões ambientais. Assim, um cenário poderia ser
sugerido em que subpopulações de hominídeos desenvolveram tecnologia semelhante
em diferentes lugares em resposta a desafios semelhantes em seus ambientes. Em
tal cenário, esperaríamos que a mudança no registro de incêndio para
corresponder ou seguir uma mudança que teve efeitos comparáveis em ambientes
regionais em toda a área geográfica, provavelmente uma mudança global no clima”.[12] No entanto a mudança
ambiental, não parece estar de acordo com uma cenário de evolução convergente,
o que sugere a influência de fatores culturais. Este processo de transmissão cultura
de técnicas ocorre como reflexo de um novo estágio de organização da sociedade
primitiva: “Sugerimos que muito antes do florescimento cultural associado ao
final do Pleistoceno Médio e a uma maior extensão dos Períodos do Paleolítico
Superior, os hominídeos estavam começando desenvolver as capacidades de
complexidade, variabilidade e ampla difusão de tecnologia e comportamento que
tendemos a associar apenas ao Homo sapiens”.
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