quarta-feira, 23 de março de 2022

As nove partes que formam o ser no Antigo Egito

 

Ka é a força vital[1], a chama da vida, o que distingue as pessoas vivas das mortas, o poder que fixa e torna o indivíduo um espírito animado[2]. Gaston Maspero considera o ka como uma réplica do homem vivendo o mesmo período de tempo que ele. Breatesd entendia tratar-se de uma espécie de anjo da guarda[3]. Ramsses II da XIX dinastia é citado como tendo vinte e dois Ka.  O Ba refere-se a personalidade de cada pessoa. O Khat é o corpo físico. Ka e Ba são as duas partes da alma, em que ka é a parte da alma que faz a conexão do corpo e ba é a essência moral das motivações, que lhe permitia liberdade no outro mundo[4], o sopro da vida, representado na forma de um pássaro, tal como uma cegonha que mostra a capacidade de migrar e retornar ao mesmo ponto.[5] O Ba é solto com a morte, e esse voa do túmulo para a região espiritual, e retorna mais uma vez. O Ba aparece no momento da união do corpo com o Ka. O Ka e o Ba deixam o corpo no momento da morte. O Ka viria visitar a múmia do falecido, e a união de ba e ka forma o corpo transfigurado ou A’Akh (representado na tumba por um íbis, trata-se do espírito liberado do corpo) após a morte.[6] O Akh é o terceiro elemento espiritual do morto, representava o estado agraciado de um indivíduo.[7] Akh é o ser imortal que une o Ba, a personalidade com o Ka, a chama da vida. Nas tumbas a existência de uma porta falsa representada em uma estela é o caminho pelo qual Ba pode entrar e sair do túmulo.[8] Nos hieróglifos antigos o Ba era representado por uma cegonha e posteriormente por um pássaro com cabeça humana tendo diante de si uma lamparina. David Silverman destaca a carcaterística de dualidade que permeava a sociedade egípcia de modo que o que acontecia na terra, também acontecia no mundo divino: “Havia um cargo, assim como um indivíduo que ocupava esse cargo. O cargo era uma constante divina, sempre existiu, sempre existiria. Contudo, o indivíduo nele que, por nascimento, posição ou poder subiu ao trono, tornava-se divino através do ritual da coroação”.[9] Desta forma no Egito Antigo nove eram as partes que forma o ser: Ib é o coração, shuyet a integridade do ser, Ren o nome dado no nascimento, Ba, a personalidade, Ka, a chama da vida, Khat o corpo físico, Akh, o ser imortal, Sahu o ser etéreo que será integrado aos outros aspectos da alma no momento do julgamento e Sechem a parte da alma ligada ao poder vital[[10].



[1] SHAFER, Byron. As religiões no Antigo Egito, São Paulo: Nova Alexandria, 2002, p. 179

[2] WEST, John Anthony. The traveler’s key to ancient Egypt, New York:Quest, 2012, p. 64; Vatican Museums, Rome:Libreria Editrice Vaticana, 2011, p.102

[3] EDWARDS, J. As pirâmides do Egito, Rio de Janeiro:Record, 1985, p.34

[4] SHAFER, Byron. As religiões no Antigo Egito, São Paulo: Nova Alexandria, 2002, p. 179

[5] MALKOWSKI, Edward. O Egito antes dos faraós. São Paulo:Cultrix, 2010, p. 248

[6] BUNSON, Margaret. Encyclopedia of Ancient Egypt, New York:Facts on File, 2002, p. 189

[7[ SILVERMAN, David. Introduction to Ancient Egypt and Its Civilization, Semana 3, The Pharaoh and Kingship Part 5, 2021 https://www.coursera.org/learn/introancientegypt/

[8] BIANCHINI, Nicola. Mummies in ancient Egypt. National archaelogical Museum, Florence, 2014, p.13

[9] SILVERMAN, David. Introduction to Ancient Egypt and Its Civilization, Semana 6, Mummies and mummification Part 3, 2021 https://www.coursera.org/learn/introancientegypt/

[10] HUTFLESZ, Amanda Martins. Mini Curso: O Egito no Tempo dos Faraós, Aula 1



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