segunda-feira, 28 de março de 2022

Abacistas versus algebristas

 

A noção de algoritmo teve origem com o matemático árabe Abu Adullah Mohammad Ibn Musa Al-Khwarizmi (cerca de 780-850). Sua obra, que inclui tabelas de funções trigonométricas,[1] chegou ao Ocidente por um texto latino do século XII, em que seu nome aparece na forma latinizada Algorismus. O cálculo algoritmo se contrapunha aos cálculos realizados com ábaco, então em voga. Uma de suas obras: Cálculo por restauração e redução, Al-Khwarizmi expõe técnicas para resolver problema aritméticos. Pela restauração (al-jabr) um termo negativo pode se tornar positivo ao ser passado para o outro lado do sinal de igual de uma equação. A redução é o processo inverso. Ao ser traduzido para o latim a palavra al-jbr do título se tornou álgebra.[2] Por demandar muito papel, objeto de luxo na idade Média, e por ter origem de um infiel, o uso dos algoritmos somente viria a ter maior disseminação na Europa no século XVI[3]. Uma batalha foi travada entre abacistas, apegados a complicada aritmética greco romana com auxílio de um ábaco, e algebristas para solução de problemas matemáticos[4]. A invenção da imprensa acabou favorecendo o uso dos algarismo hindu arábicos em detrimento do ábaco.  Lancelot Hogben observa o menosprezo para com os algebristas na Espanha, pela expressão pejorativa usada na época “curandeiro e algebrista”[5].



[1] GLEICK, James. A informação: uma história, uma teoria, uma enxurrada, São Paulo:Cia das Letras, 2013, p. 91; SEDGWICK, W.; TYLER, H; BIGELOW, R. História da ciência: desde a remota antiguidade até o alvorescer do século XX, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1952, p.162

[2] BELLOS, Alex. Alex no país dos números: uma viagem ao mundo maravilhoso da matemática. São Paulo:Cia das Letras, 2011, p.194; RONAN, Colin. História Ilustrada da Ciência: Oriente, Roma e Idade Média. v.2, São Paulo:Jorge Zahar, 2001, p.107

[3] O nascimento da álgebra, Peter Schreiber, In: A Ciência na Idade Média, Scientific American do Brasil, agosto 2008, p. 16

[4] STEVERS, Martin. A inteligência através dos séculos. São Paulo:Globo, 1946, p.474; ROONEY, Anne. A história da matemática, São Paulo: M. Books, 2012, p. 60

[5] HOGBEN, Lancelot. Las matemáticas al alcance de todos. Joaquín Gil: Buenos Aires, 1943, p. 356



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