sábado, 5 de março de 2022

A revolução científica na China

 

Para George Basalla “o lento desenvolvimento da ciência na China pode ser explicado, em grande medida pela incapacidade da ciência em ocupar o lugar do Confucionismo como filosofia predominante. O pensamento confucionista ressaltou a importância dos princípios morais e relações humanas e desencorajou o estudo sistemático do mundo natural. A rejeição do confucionismo ao conhecimento científico foi registrado em um poema escrito no início do século XIX por um dignatário chinês: “com um microscópio você vê a superfície das coisas. Ele amplia as coisas mas não te mostra a realidade. Ele faz as coisas maiores e mais largas, Mas não pense você que estas vendo de fato as coisas em si mesmas”.[1[ Sprague de Camp observa que a característica de semi isolamento da China impediu a difusão de técnicas como, por exemplo, o carrinho de mão inventado no século III por Jugo Lyang mas que chegou à Europa mais de mil anos depois.[2] Joseph Needham formula um pergunta que se tornou famosa, a chamada “pergunta Needham”: por que a Revolução científica aconteceu na Europa e não na China ? [3] Joseph Needham observa que a estagnação tecnológica chinesa que se observa após a dinastia Ming no século XIV ocorreu devido ao excessivo poder da burocracia central.[4] Paul Kennedy observa que segundo o código confuciano a guerra em si era uma atividade deplorável, o que inibia as possibilidades de expansão do comércio além mar, aliado a uma conservantismo da burocracia estatal e a desconfiança para com a acumulação de capital privado, todos estes constituíram fatores que contribuíram para o atraso da formação de uma economia de mercado.[5] Roland Mousnier observa que “A Ásia permanecera no segundo estágio do pensamento, anterior ao racionalismo qualitativo dos gregos, em que o pensamento é, antes de tudo, a intuição dos conjuntos qualitativos. O sapateiro hindu não toma medidas, coloca o pé do cliente na sua mão, adquire a imagem mental de um certo volume e faz um sapato, que, aliás, serve muito bem [...] O europeu está em movimento perpétuo. Seu ideal é a luta, a ação, a expansão, o progresso ou a transformação, a insaciável curiosidade da novidade, a impaciência e a insubordinação diante dos obstáculos, quer estes provenham das coisas ou da vontade dos homens, O asiático é sonho perpétuo, desprezo pelo esforço, culto das leis estabelecidas e das ideias transmitidas, desconfiança frente às novidades, respeito de todas as forças exteriores humanas e naturais, resignação [...] aos asiáticos era inconcebível a viagem por simples curiosidade: “Apenas os europeus, no mundo, viajam por curiosidade (Chardin) [..] Isso explica que o gosto por narcóticos fosse universal na Pérsia e na Índia”.[6] Peter James, contudo, chama a atenção para outro aspecto, a perspectiva colonizadora europeia. Na batalha de Woosung / Wusong em 1842 os ingleses derrotaram a frota naval chinesa durante a primeira guerra do Ópio. Segundo o relatório do almirante inglês os navios chineses usavam a tecnologia de rodas de pás usadas nos navios ingleses o que teria sido possível por roubo de tecnologia.[7] Robert Temple, contudo, em The Genius of China: 3,000 Years of Science, Discovery, & Invention afirma que a primeira menção de um barco com rodas de pás da China foi descrita em History of the Southern Dynasties, compilado no século VII mas descrito como um barco da Dinastia Liu Song (420–479).

[1] BASALLA, George. The Spread of Western Science. Science, v. 156, n. 3775, p. 611-622, 1967.

[2] CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers, New York: Ballantine Books, 1963, p. 314

[3] BURKE, Peter. O polímata, São Paulo:Unesp, 2020, p. 254

[4] CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers, New York: Ballantine Books, 1963, p. 339

[5] KENNNEDY, Paul. Ascenção e quedas das grandes potências, Rio de Janeiro: Campus, 1989, p. 17

[6] MOUSNIER, Roland. Os séculos XVI e XVII. Tomo IV, 2° volume, História Geral das Civilizações, São Paulo:Difusão, 1957, p. 211

[7] JAMES, Peter; THORPE, Nick. Ancient inventions. London: Random Hause, 1995, p. xviii



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