Para George Basalla “o
lento desenvolvimento da ciência na China pode ser explicado, em grande medida
pela incapacidade da ciência em ocupar o lugar do Confucionismo como filosofia
predominante. O pensamento confucionista ressaltou a importância dos princípios
morais e relações humanas e desencorajou o estudo sistemático do mundo natural.
A rejeição do confucionismo ao conhecimento científico foi registrado em um
poema escrito no início do século XIX por um dignatário chinês: “com um
microscópio você vê a superfície das coisas. Ele amplia as coisas mas não te
mostra a realidade. Ele faz as coisas maiores e mais largas, Mas não pense você
que estas vendo de fato as coisas em si mesmas”.[1[ Sprague de Camp observa que a característica de semi isolamento da China
impediu a difusão de técnicas como, por exemplo, o carrinho de mão inventado no
século III por Jugo Lyang mas que chegou à Europa mais de mil anos depois.[2] Joseph Needham formula um pergunta que se tornou famosa, a chamada “pergunta
Needham”: por que a Revolução científica aconteceu na Europa e não na China
? [3] Joseph Needham observa que a estagnação tecnológica chinesa que se observa após
a dinastia Ming no século XIV ocorreu devido ao excessivo poder da burocracia
central.[4] Paul Kennedy observa que segundo o código confuciano a guerra em si era uma
atividade deplorável, o que inibia as possibilidades de expansão do comércio
além mar, aliado a uma conservantismo da burocracia estatal e a desconfiança
para com a acumulação de capital privado, todos estes constituíram fatores que
contribuíram para o atraso da formação de uma economia de mercado.[5] Roland Mousnier observa que “A Ásia
permanecera no segundo estágio do pensamento, anterior ao racionalismo
qualitativo dos gregos, em que o pensamento é, antes de tudo, a intuição dos
conjuntos qualitativos. O sapateiro hindu não toma medidas, coloca o pé do
cliente na sua mão, adquire a imagem mental de um certo volume e faz um sapato,
que, aliás, serve muito bem [...] O europeu está em movimento perpétuo. Seu
ideal é a luta, a ação, a expansão, o progresso ou a transformação, a
insaciável curiosidade da novidade, a impaciência e a insubordinação diante dos
obstáculos, quer estes provenham das coisas ou da vontade dos homens, O
asiático é sonho perpétuo, desprezo pelo esforço, culto das leis estabelecidas
e das ideias transmitidas, desconfiança frente às novidades, respeito de todas
as forças exteriores humanas e naturais, resignação [...] aos asiáticos era
inconcebível a viagem por simples curiosidade: “Apenas os europeus, no mundo,
viajam por curiosidade (Chardin) [..] Isso explica que o gosto por narcóticos
fosse universal na Pérsia e na Índia”.[6] Peter James, contudo, chama a atenção para outro aspecto, a perspectiva
colonizadora europeia. Na batalha de Woosung / Wusong em 1842 os ingleses
derrotaram a frota naval chinesa durante a primeira guerra do Ópio. Segundo o
relatório do almirante inglês os navios chineses usavam a tecnologia de rodas
de pás usadas nos navios ingleses o que teria sido possível por roubo de
tecnologia.[7] Robert
Temple, contudo, em The Genius of China: 3,000 Years of Science, Discovery,
& Invention afirma que a primeira menção de um barco com rodas de pás da
China foi descrita em History of the Southern Dynasties, compilado no século
VII mas descrito como um barco da Dinastia Liu Song (420–479).
[1] BASALLA, George. The Spread of Western Science. Science, v. 156, n.
3775, p. 611-622, 1967.
[2] CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers, New York: Ballantine Books,
1963, p. 314
[3] BURKE, Peter. O
polímata, São Paulo:Unesp, 2020, p. 254
[4] CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers, New York: Ballantine Books,
1963, p. 339
[5] KENNNEDY, Paul. Ascenção
e quedas das grandes potências, Rio de Janeiro: Campus, 1989, p. 17
[6] MOUSNIER, Roland. Os
séculos XVI e XVII. Tomo IV, 2° volume, História Geral das Civilizações, São
Paulo:Difusão, 1957, p. 211
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