O espírito
empirista de Galeno é sintetizado por Celso (Aurelius Cornelius Celsus), conhecido como “o Cícero dos médicos” (Cicero medicorum)[1] autor de
De res medica[2] do ano 30 d.c. (Das coisas médicas)
uma compilação de textos em grego[3]: “é ocioso investigar as causas obscuras e as
ações naturais, porque a natureza é impenetrável; e a prova disso é o desacordo
reinante entre os que discutem estas questões”. Celso descreve entre outras
técnicas de cirurgia plástica como a recuperação de orelhas danificadas com uso
de brincos pesados bem como operações de trepanação e uso de papoulas como
anestésico[4]. Uma lápide do século 2
d.c encontrada em um túmulo romano na Gália descoberta em 1829 em Montiers sur
Saulx mostra um médico procedendo a operação de catarata.[5] Em 1975 em Montbellet na
França foram encontrados instrumentos cirúrgicos na forma de uma agulha para cirurgia
de catarata tal como descrito no tratado de Celso no século I.[6] A
medicina empírica, portanto, não é o produto do raciocínio, mas das experiências.[7] Peter
James sugere que os romanos tenham aprendido as técnicas de operação de
catarata com os médicos indianos, tal como compilado do livro médico hindu Sushruta
Samhita que descreve técnica similar. Nestas experiências Celso reconhece
como justificável o uso de criminosos que aguardam a pena de morte nas prisões:
“nós devemos buscar remédios para as pessoas inocentes das gerações futuras”.[8] Celso não
era reconhecido como médico, mas um “curioso
da ciência médica”[9] Embora
Plínio nomeie Celso como um dos autores de tratados médico, não o inclui como
médico[10]. Plínio,
por sua vez, foi um difamador da ciência médica: “A medicina, apesar seu aspecto lucrativo, é uma das artes desses gregos
que os romanos sérios se negaram a aceitar”.[11] Catão,
feroz adversário dos médicos profissionais, chegou a escrever sobre os médicos
“vem para matar-nos a todos” e que
eles “faziam magníficos negócio, apesar
da desconfiança de que estavam rodeados por sua arte suspeita e por serem
forasteiros”.
[1] GIORDANI, Mario Curtis.
História de Roma, Rio de Janeiro:Vozes, 1981, p. 287
[2] FAGAN, Brian. Los
setenta grandes inventos y descobrimentos del mundo antiguo, Barcelona:Blume,
2005, p. 258
[3] SINGER, Charles. From magic to science. New York:Dover, 1958, p.21
[4] JAMES, Peter; THORPE, Nick.
Ancient inventions. London: Random Hause, 1995, p. 38
[5] THORWALD, Jurgen. O
segredo dos médicos antigos. São Paulo: Melhoramentos, 1990, p.161
[6] JAMES, Peter; THORPE, Nick.
Ancient inventions. London: Random Hause, 1995, p. 19
[7] TATON, René. A
ciência antiga e medieval, tomo I, livro 2, Sâo Paulo:Difusão Europeia, 1959,
p. 180
[8] JAMES, Peter; THORPE, Nick.
Ancient inventions. London: Random Hause, 1995, p. 10
[9] BLOCH, Raymond; COUSIN, Jean. Roma e o seu destino. Rio de Janeiro:Cosmos,
1964, p.344
[10] GIORDANI, Mario Curtis.
História de Roma, Rio de Janeiro:Vozes, 1981, p. 287
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