quinta-feira, 17 de março de 2022

A magia na Grécia e Roma antigas

 

Segundo Raymond Bloch “no princípio e no decurso da história de Roma, numerosos são os vestígios de magia e de misticismo elementar; não havia nenhum nascimento que não fosse protegido por uma divindade, nenhum crescimento que não tivesse os seus numina”, e assim também as atividades agrícolas como o arroteamento do solo, passagem do arado, semeadura, germinação do grão, colheita, tudo era regido pela crença nos numina, ou seja, pelos “poderes divinos” que no princípio era simbolizado pelo culto dos lares. [1] Derek Colins mostra que em Roma o conceito de magia havia se confundido com maleficum – crime, calúnias ou envenenamentos, de modo que não se observa na legislação romana mais antiga como as Doze Tábuas qualquer condenação direta a feitiços mágicos.[2] A lei Cornelia previa a condenação de  assassinos e envenadores – sicariis et veneficiis e assim mutos praticantes de magia foram condenados. Não estavam claras as fronteiras entre as honras e rituais devidas aos deuses (religio) e aquilo que poderia ser considerado como excessivo a que os romanos chamavam de superstitio (significado diferente do atual superstição) e que Cicero distingue da religio.[3] Os magos eram originários, provavelmente de uma comunidade sacerdotal da região da Medeia e teriam entrado em contatio com o mundo grego por volta de 540 a.c. com a conquista de Ciro das cidades gregas da Ásia Menor. As tragédias de Édipo tirano de Sófocles e Orestes de Eurípedes mencionam magosno século V a.c. O historiador Xantos da Lídia (499 – 440 a.c) mencionado por Clemente de Alexendria em Stromata, se refere aos magos.[4] Em 158 d.c. Apuleio foi acusado de magia e em sua defesa alegou que suas práticas eram de culto religio usual. No Asno de ouro, Apuleio se refere aos encantamentos usados por uma maga que incluíam ”todo o tipo de incensos aromáticos, placas de metals com inscrições secretas, vários pedaços de cadáveres, sangue das vítimas e caveiras de criminosos mortos em combate com as feras no anfiteatro”.[5] Com Agostinho no século IV já há uma associação direta da supestitio como as magicae artes, ou malae artes pactuadas com demônios, ou seja, associadas a algum malefício. O cânone 36 do Concílio de Laodicéia, realizado entre 341 e 381 especifica que "padres e clérigos não podem ser feiticeiros [magoi], encantadores [epaoidoi] ou astrólogos [mathematikoi] e não devem fazer amuletos [phylakteria], que são veneno para a alma”.[6] Com o Codigo Teodosiano (438 d.c.) a condenação aos magos é clara: “Deve ser punido e vingado de modo merecido com as leis mais severas o conhecimento (scientia) daqueles que, com auxílio das artes mágicas (magicae artes) ou ameaçam a segurança de alguém ou fizeram com que mentes castas se voltassem à luxúria”.[7]



[1] BLOCH, Raymond; COUSIN, Jean. Roma e o seu destino. Rio de Janeiro:Cosmos, 1964, p.179

[2] COLLINS, Derek. Magia no mundo grego antigo, São Paulo: Madras, 2009, p. 209

[3] COLLINS, Derek. Magia no mundo grego antigo, São Paulo: Madras, 2009, p. 215

[4] CHEVITARESE, André; CORNELLI, Gabrielli; SELVATICI, Monica. Uma outra história de Jesus de Nazaré. São Paulo: Anablulme, 2006, p.68

[5] FUNARI, Pedro. Roma, vida pública e vida privada, São Paulo: Atual, 1993, p. 19

[6] LUCK, Georg. Arcana Mundi: magic and the occult in the Greek and roman worlds, Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2006, p.23

[7] COLLINS, Derek. Magia no mundo grego antigo, São Paulo: Madras, 2009, p. 237



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