Para
Honório Rodrigues: “a escravidão, que foi o sustentáculo dos senhores, criou,
possivelmente, vários complexos, entre os quais a objeção pelo trabalho manual.
Em 1757 frei Domingos do Loreto Couto observa que os que exercem ofícios mecânicos
perdem a presunção de alvos ou nobres.[1] Nas
palavras de Fernando de Azevedo: “a escravatura desonrou o trabalho nas suas
formas rudes. Enobreceu o ócio e estimulou o parasitismo, contribuiu para
acentuar entre nós a repulsa pelas atividades manuais e mecânicas, e fazer-nos
considerar como profissões vis as artes e os ofícios. Segundo a opinião
corrente, trabalhar, submeter-se a uma regra qualquer, era coisa de escravo”.[2] Para
Fernando de Azevedo: “produto da época e
das condições de vida social da metrópole, transferiu-se para a colônia, com os
costumes, os usos e a religião, a mentalidade para a qual a liberdade se tornou
sinônimo de ociosidade e o trabalho qualquer coisa de equivalente à servidão”.[3] Emília Viotti mostra que a escravidão marcou profundamente o conceito do
trabalho na colônia: “durante todo esse
período, a história do trabalho é, sobretudo, a história do escravo”.[4] Segundo Emília Viotti “a escravidão não
teve apenas uma influência dissolvente sobre a sociedade inteira, mas corrompeu
a noção de dever e do respeito, desonrou o trabalho, enobreceu o ócio, abalou a
hierarquia e destruiu a disciplina. Segundo a opinião corrente, trabalhar –
submeter-se uma regra qualquer – é coisa de escravos”.[5] Em 1883 Joaquim Nabuco em O abolicionismo
relata que a escravidão: “impossibilita o
progresso material do país, corrompe-lhe o caráter, desmoraliza-lhe os
elementos constitutivos, tira-llhe a energia e a resolução, rebaixa a política
[...] desonra o trabalho manual, retarda a aparição das indústrias, promove a
bancarrota, desvia os capitais de seu curso natural, afasta as máquinas, excita
o ódio entre as classes, produz uma aparência ilusória de ordem, bem estar e
riqueza [...] O nosso caráter, o nosso temperamento, a nossa organização toda,
física, intelectual e moral, acha-se terrivelmente afetada pelas influências
com que a escravidão passou trezentos anos a permear a sociedade brasileira”.[6] Para João Severiano Maciel da Costa em 1821: “o maldito sistema de trabalho por escravos, além de outros males,
fez-nos o grandíssimo de infamar de tal sorte o trabalho agrícola que os homens
livres da mais baixa classe, antes querem morrer de fome, e entulhar as vilas e
cidades na medicidade e miséria do que receberem um pão honrado, ganhado por
seus braços”.[7] Para Emília Viotti: “O trabalho
manual, era visto como obrigação de negro, de escravo. Trabalho é pra negro. A
ideia de trabalho trazia consigo uma sugestão de degradação. Também para o
negro, o trabalho, fruto da escravidão, aparecia como obrigação penosa,
confundia-se com o cativeiro, associava-se às torturas do eito. A liberdade
deveria, necessariamente, aparecer-lhe como promessa de ausência de obrigações
e de trabalho. Dessa forma a escravidão ultrajava a ideia de trabalho, e, o que
é ainda mais grave, degradava as relações entre os homens”.[8] Luis Antonio em 1768 referia-se a “dificuldade
de continuar o cultivo da terra onde o povo não pratica, aonde não há quem
sirva, por se reputar o trabalho por desprezo”.[9]
[2] AZEVEDO, Fernando. A transmissão da
cultura, Rio de Janeiro: INL, 1976, p. 81.
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