quinta-feira, 31 de março de 2022

O passado ibérico em Capistrano de Abreu

 

Para Capistrano de Abreu falta a Varnhagen  uma periodização da história do Brasil e uma visão de conjunto à sua obra, que se perde por vezes no detalhe de alguns episódios da história. Capistrano de Abreu faz uma periodização da história do Brasil que leva em conta aspectos econômicos e sociais, em que numa primeira fase elogia a rebelião dos brasileiros durante os três primeiros séculos, com destaque para os movimentos de interiorização com as bandeiras, com o gado e com as minas. O historiador Capistrano de Abreu se refere a "Civilização do Couro"[1] para descrever a importância da pecuária no interior nordestino. Numa segunda fase mostra a decepção e frustração com a não concretização de uma independência liderada por brasileiros que parecia madura e numa terceira fase, demonstrando certa frustração, destaca a aceitação e legitimação da "independência possível" liderada pelo Estado português. Segundo José Carlos Reis, “Capistrano de Abreu enxerga a possibilidade "de abrir um novo futuro, sustentado por um novo passado. O Brasil nação não será oficial, o sujeito da história do Brasil não é o estado Imperial, mas o povo brasileiro, em sua diversidade e unidade. No passado, Capistrano põe ênfase na vida desse povo, por um lado, ativo na ocupação do território, por outro, passivo e ineficaz na produção da verdadeira independência”.[2] Para Capistrano de Abreu  o “povo foi durante três séculos capado e recapado, sangrado e ressangrado”, como escreveu em carta ao amigo português Lúcio de Azevedo, de 16 de julho de 1920 (figura). [3] Sérgio Buarque de Holanda em 1936 “ao recusar as nossas raízes ibéricas aprofundou a reflexão de Capistrano de Abreu sobre a ruptura do futuro brasileiro com o seu passado colonial ibérico"[4].



[1] BOXER, Charles. A idade de ouro do Brasil: dores de crescimento de uma sociedade colonial. São Paulo:Cia Editora Nacional, 1969, p. 246

[2] REIS, José Carlos. As identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC, Rio de Janeiro: FGV., 2003, p.110

[3] http://bndigital.bn.gov.br/dossies/biblioteca-nacional-200-anos/os-personagens/capistrano-de-abreu/

[4] REIS, José Carlos. As identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC, Rio de Janeiro: FGV., 2003, p.17



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