Para Meggers e
Evans o mesmo clima hostil da floresta de baixa produtividade do solo que
impediu o florescimento de civilizações avançadas na região contribuiu para o
desaparecimento da cultura marajoara a partir do século XI. Meggers propôs que
as condições ambientais da
várzea amazônica impediram o
desenvolvimento local de sociedades complexas.[1] As
cerâmicas de Taperinha de 5000 a.c. e as de Pedra Pintada de 7000 a.c. na
região amazônica, produzidas por povos não agricultores, levou a redefinição
desta perspectiva.[2] Estas datas contribuem para se rejeitar as teses de uma origem exógena da
cerâmica na Amazônia[3]. Poucos
pesquisadores continuam sustentar as teses de Meggers e Evans diante da
permanência desta cultura sofisticada por séculos na região e dos indícios de
que a indústria cerâmica da ilha se desenvolveu in loco.[4] As
primeiras cerâmicas conhecidas no Novo Mundo foram encontradas na foz do rio
Amazonas em Puerto Hormiga e Monsu na Colômbia por volta de 4000 a.c.[5] Robert Carneiro
e Donald Lathrap defendem a ideia de que a Amazônia central foi um grande pólo
de desenvolvimento cultural diante de uma várzea fértil, a região inundável em
torno dos rios amazônicos, tão rica à semelhança do rio Nilo. Os solos da Amazônia, exceto os da várzea do Amazonas
e de alguns de seus rios afluentes são inférteis devido a exposição as altas
temperaturas durante o ano todo e fortes chuvas. A floresta densa protege
contra a lixiviação e erosão do solo porém os nutrientes solúveis se perdem
rapidamente.[6] Para Lathrap as cerâmicas conhecidas era muito diferentes entre si para que
fosse possível aceitar a hipótese de difusão de culturas.[7] Segundo
Jonas Gregório de Souza e Denise Schaan os geoglifos encontrados em planícies
amazônicas no Alto Xingu datados de 1250 a 1500 podem ser provas de uma
população estimada em torno de 500 mil a 1 milhão de habitantes e questionam o
modelo tradicional de que estas populações estivessem concentradas às margens
dos rios.[8] Um
geoglifo no Acre em Jacó de Sá mostra a representação de um quadrado com um
círculo concêntrico ocupando uma área de vinte mil metros quadrados. O desenho
foi construído a partir de valas de aproximadamente onze metros de largura e
2,5 metros de profundidade e datam de 1500 a 2500 anos atrás. Segundo Flávio
Rizzi Calippo foram identificados 410 geoglifos no Acre.[9] Denevan
estima em 6,8 milhões de pessoas a população na Amazônia antes da presença dos
europeus[10].
Michael Heckenberger encontrou vestígios de estradas no Alto Xingu que mostra
presença de áreas densamente povoadas: "O problema é que, se você acha
esse tipo de coisa na Europa, é uma cidade. Se você acha isso em outro lugar,
tem de ser outra coisa [...] Elas têm planejamento e organização incríveis,
mais do que muitos exemplos clássicos do que as pessoas chamam de urbanismo".
Segundo Heckenberger, os assentamentos estavam organizados de forma
hierárquica, com "cidades" centrais maiores e vilas subordinadas,
dispostas a poucos quilômetros de distância umas das outras.[11] No parque
nacional da Serra de Chiribiquete, no sul da Colômbia, há o que se conhece como
“Capela Sistina da Amazônia”, com mais de 50 cavernas com pinturas rupestres
que serviram de casas de antigos povos há cerca de 20 mil anos. O parque
nacional foi declarado patrimônio cultural e biológico da humanidade pela Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em 2018.
[1] BARRETO, Cristiana. A
construção de um passado pré colonial: uma breve história da arqueologia no
Brasil. Revista USP, vol. 44, p. 32-51 http://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/30093/31978
[2] NEVES, Walter. Assim
caminhou a humanidade, São Paulo:Palas Athena, 2015, p.309
[3] NEVES, Eduardo Goes. O
Velho e o novo na arqueologia amazônica. Revista USP, 2000, n.44, p.90
[4] FAUSTO, Carlos. Os
índios antes do Brasil, Rio de Janeiro:Zahar, 2005, p. 29
[5] COE, Michael. Antigas
Américas, mosaico de culturas, v. II Madrid:Ed. Del Prado, 1996, p. 178
[6] MEGGERS, Betty. América
pré histórica. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p. 219
[7] NEVES, Eduardo Goes. O
Velho e o novo na arqueologia amazônica. Revista
USP, 2000, n.44, p.92
[8] SOUZA, Jonas et all. Pre-Columbian earth-builders settled along the
entire southern rim of the Amazon, Nature Communicationsvolume 9, Article
number: 1125 (2018) https://www.nature.com/articles/s41467-018-03510-7
[9] https://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/bbc/2018/11/06/o-misterioso-geoglifo-de-2-mil-anos-que-deve-se-tornar-patrimonio-brasileiro.htm
[10] HECKENBERGER, M. J. 2009. As cidades perdidas da Amazônia. A floresta tropical amazônica não é tão selvagem quanto parece. Scientific American Brasil, 90. https://sciam.com.br/as-cidades-perdidas-da-amazonia/
[11] Arqueólogos descobrem grandes áreas urbanas na Amazônia pré-histórica, 1/09/2008 http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL740598-5603,00-ARQUEOLOGOS+DESCOBREM+GRANDES+AREAS+URBANAS+NA+AMAZONIA+PREHISTORICA.html
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