domingo, 20 de fevereiro de 2022

A Casa da Sabedoria em Bagdá

 

No Tratado Decisivo de Averrois o filosofo observa “que a lei convida à observação racional dos seres existentes e à pesquisa de um conhecimento desses pela razão, é algo manifesto em mais de um versículo do Corão”.[1] Disse o Profeta do Islam: "Instruir-se é dever de todos os muçulmanos" "Buscai o conhecimento, do berço à sepultura!" "Buscai o conhecimento, ainda que seja na China!"[2]. Os árabes não foram meros intermediários da cultura Clássica tendo sofrido influência não apenas dos gregos mas também da Índia e Pérsia. O Sahih al-Bukhari é a mais importante das seis grandes coleções de hadith do Islão sunita. Estas tradições sobre o Profeta do Islã Muhammad foram coletados pelo estudioso muçulmano de origem persa, Muhammad ibn Ismail al-Bukhari, depois de ter sido transmitida oralmente por várias gerações. Diversas foram as inovações promovidas pelos eruditos árabes reunidos na Casa da Sabedoria - Bayt al Hikmah instalada em Bagdá capital do império Abássida[3] tendo atingido seu auge no reinado de Al-Ma’mun (813-833). O local atraiu diversos sábios e tradutores de diversas partes do império como o filósofo al-Kindi, reunindo importante biblioteca transformando o árabe uma língua de comunicação intelectual de todo o império[4] um período que Colin Ronan chama de “renascimento cultural árabe”.[5] Hunayn ibn Ishaq e outros eruditos traduziram do grego a República de Platão, muitos dos trabalhos de Aristóteles, Dioscorides e Galeno, sendo que muitos destes trabalho chegaram até nos apenas por estas traduções em árabes, tendo sido perdidos os originais árabes.[6] David Lindberg, contudo, aponta a Casa da Sabedoria como um mito desvendado por Dimitri Gutas que mostra que o termo Bayt al Hikmah  se refere a uma biblioteca e não propriamente a um centro de tradução, muito embora o cristão nestoriano Hunayn ibn Ishaq de fato tenha sido um tradutor importante da época[7]. Oliveira Martins observa que os árabes ao invadirem a península ibérica cuidaram para que judeus e cristãos tivessem liberdade de culto, mediante pagamento de um imposto, faculdade que já se observava entre os persas seguidores de Zoroastro “segundo se vê, a tolerância para com as religiões estranhas crescia à maneira que as conquistas avançavam”.[8]

[1] TATON, René. A ciência antiga e medieval: a Idade Média, tomo I, v.III, São Paulo:Difusão, 1959, p. 22

[2] Sahih Bukhári, Sahih Musslim e Tirmizi.

[3] LYONS, Jonathan. A casa da sabedoria, Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.164; BOORSTIN, Daniel. Os criadores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1995, p.93

[4] BRAGA, Marco; GUERRA, Andreia; REIS, Jose Claudio. Breve historia da ciência moderna, v.I, Rio de Janeiro:Zahar, 2011, p. 36

[5] RONAN, Colin. História Ilustrada da Ciência, v.II Oriente, Roma e Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 2001, p. 85

[6] GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and waterwheel, New York: Harper Collins, 1994, p. 100

[7] LINDBERG, David C.. The Beginnings of Western Science. University of Chicago Press. Edição do Kindle.2007, p.171

[8] MARTINS, Oliveira. História da civilização ibérica, Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p.115



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