segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

O roubo de túmulos no Egito Antigo

 

A necessidade de garantir a sua segurança através de uma política imperialista de conquista de novos povos foi menos presente no Egito do que na civilização contemporânea da Mesopotâmia.[1] Uma vez construídas e encerrados os ritos funerários o vale dos Reis permanecia deserto com exceção das equipes de operários que preparavam a tumba do rei atual e patrulha (medjay) que tentava evitar os frequentes saques.[2] O papiro de Leopold Amherts registra o depoimento de confissão de um saqueador. Em 2000 a.c. o próprio faraó Merikarê confessa a seu filho que pilhava túmulos.[3] O livro árabe Livre des Perles enfouies et du mystére précieux fornece uma lista minuciosa dos tesouros mais procurados e dos encantamentos necessários para consegui-los.[4] O Papiro Judicial de Turim, conhecido como papiro da Greve registra atos de vandalismo no reinado de Ramsés III contra as tumbas de Ramsés II em 1169 a.c., bem como a condenação dos acusados.[5] Uma crise social se manifesta desde o tempo de Ramses III no final do Novo Império com fome, corrupção e desordens[6]. Nos tempos de Ramses IX o vizir Khaemuaset inicia investigações sobre violações de túmulos reais. Maurice Crouzet, porém, adverte que “tais incidentes nos inspiram ceticismo no tocante ao entusiasmo, aliás menos intensa do que em relação às atividades agrícolas, que as representações plásticas atribuem aos trabalhadores”.[7] No túmulo do príncipe Paheri em El Kab alguns camponeses da XIX Dinastia são representados falando uns com os outros exaltando seu trabalho: “que belo e suave dia ! os bois estão trabalhando bem. Os deuses ajudam-nos, trabalhemos ainda mais duramente, para o bem de nossos senhores. Como estamos trabalhando bem ! Como o mundo nos está sorrindo “ Quão rica cresce a grama sob os nossos pés”. Jon White comenta: “seria lastimar que essas palavras tão simples e expressivas fossem talhadas para satisfazer uma propaganda principesca”. [8] No papiro de Ipuwer denuncia o roubo de túmulos depois do colapso da sexta dinastia (terceiro milênio a.c.): “agora prestem atenção, foi feito algo que jamais acontecera por muito tempo: o rei foi levado por infames [...] O que a pirâmide ocultava ficou vazio”. Durante a XVIII dinastia (1520-1300 a.c) foi formado um grupos com a função de patrulhar o Vale dos Reis e das Rainhas em Tebas para evitar roubos dos túmulos. Na XX Dinastia os caixões e múmias dos grandes governantes da XVIII e XIX dinastias foram transferidos para câmaras secretas no Vale do Reis, o que explica os túmulos dos grandes faraós Tutamosis III e Ramsés II teriam sido encontrados vazios. [9]

[1] CROUZET, Maurice. História Geral das Civilizações: O Oriente e a Grécia Antiga: as civilizações imperiais, v. I, Rio de Janeiro:Bertrand Brasil, 1998, p. 43

[2] TIRADRITTI, Francesco. Tesouros do Egito do Museu egípcio do Cairo, White Star Pub, 1998, p.283

[3] VERCOUTTER, Jean. Em busca do Egito esquecido. Rio de Janeiro:Objetiva, 2002, p.55

[4] VERCOUTTER, Jean. Em busca do Egito esquecido. Rio de Janeiro:Objetiva, 2002, p.59

[5] TIRADRITTI, Francesco. Tesouros do Egito do Museu egípcio do Cairo, White Star Pub, 1998, p.285; JOHNSON, Paul. História Ilustrada do Egito. Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p. 158, 181

[6] Desplancques, Sophie. Egito Antigo (Encyclopaedia) . L&PM Pocket. Edição do Kindle, 2021,  p.1002/1492

[7] CROUZET, Maurice. História Geral das Civilizações: O Oriente e a Grécia Antiga: as civilizações imperiais, v. I, Rio de Janeiro:Bertrand Brasil, 1998, p. 103

[8] WHITE, Jon Manchip. O Egito Antigo, Rio de Janeiro:Zahar, 1966, p. 161

[9] JAMES, Peter; THORPE, Nick. O livro de ouro dos mistérios da antiguidade, Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 191



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