A necessidade de garantir a sua segurança através de
uma política imperialista de conquista de novos povos foi menos presente no
Egito do que na civilização contemporânea da Mesopotâmia.[1] Uma vez
construídas e encerrados os ritos funerários o vale dos Reis permanecia deserto
com exceção das equipes de operários que preparavam a tumba do rei atual e
patrulha (medjay) que tentava evitar
os frequentes saques.[2] O papiro
de Leopold Amherts registra o depoimento de confissão de um saqueador. Em 2000
a.c. o próprio faraó Merikarê confessa a seu filho que pilhava túmulos.[3] O livro
árabe Livre des Perles enfouies et du mystére
précieux fornece uma lista minuciosa dos tesouros mais procurados e dos
encantamentos necessários para consegui-los.[4] O Papiro
Judicial de Turim, conhecido como papiro da Greve registra atos de vandalismo
no reinado de Ramsés III contra as tumbas de Ramsés II em 1169 a.c., bem como a
condenação dos acusados.[5] Uma
crise social se manifesta desde o tempo de Ramses III no final do Novo Império com
fome, corrupção e desordens[6]. Nos
tempos de Ramses IX o vizir Khaemuaset inicia investigações sobre violações de
túmulos reais. Maurice Crouzet, porém, adverte que “tais incidentes nos inspiram ceticismo no tocante ao entusiasmo, aliás
menos intensa do que em relação às atividades agrícolas, que as representações
plásticas atribuem aos trabalhadores”.[7] No
túmulo do príncipe Paheri em El Kab alguns camponeses da XIX Dinastia são
representados falando uns com os outros exaltando seu trabalho: “que belo e suave dia ! os bois estão
trabalhando bem. Os deuses ajudam-nos, trabalhemos ainda mais duramente, para o
bem de nossos senhores. Como estamos trabalhando bem ! Como o mundo nos está
sorrindo “ Quão rica cresce a grama sob os nossos pés”. Jon White comenta: “seria lastimar que essas palavras tão
simples e expressivas fossem talhadas para satisfazer uma propaganda
principesca”. [8] No papiro de Ipuwer denuncia o roubo de túmulos depois do colapso da sexta
dinastia (terceiro milênio a.c.): “agora prestem atenção, foi feito algo que
jamais acontecera por muito tempo: o rei foi levado por infames [...] O que a
pirâmide ocultava ficou vazio”. Durante a XVIII dinastia (1520-1300 a.c)
foi formado um grupos com a função de patrulhar o Vale dos Reis e das Rainhas
em Tebas para evitar roubos dos túmulos. Na XX Dinastia os caixões e múmias dos
grandes governantes da XVIII e XIX dinastias foram transferidos para câmaras
secretas no Vale do Reis, o que explica os túmulos dos grandes faraós Tutamosis
III e Ramsés II teriam sido encontrados vazios. [9]
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