Na Ilíada Homero descreve o ceu no formato de uma tigela cobrindo uma terra plana e circular. No século V a.c. Heródoto descrevia a terra com o formato de um disco tendo ao centro os continentes cercados pelo oceano. [1] Heródoto ridicularizou o conceito de Homero de que a terra era um círculo rodeado pelo oceano rio, quando na verdade deveria ser cercado por um deserto. Para Ésquilo a terra era um paralelograma perfeito.[2] Enquanto Tales de Mileto e Filolau defendem a tese da esfericidade da Terra, gregos como Anaximandro, Demócrito e Anaxímenes tem a concepção de terra plana.[3] Parmênides levanta fortes dúvidas quanto ao formato achatado da terra, defendendo sua esfericidade[4]. Sócrates no Fedon de Platão descreve a esfericidade da terra como certa: “por conseguinte ele fez o mundo com a forma de um globo, redondo como saído de um torno, com os extremos em todas as direções equidistantes do centro, a mais perfeita e mais igual a si mesma de todas a figuras, pois considerava que o igual é infinitamente mais belo do que o desigual”.[5] Leucipo defendia que a terra tinha a forma de um tamborim repousado no ar. Aristóteles em “Segundos Analíticos” por sua vez defendia a esfericidade da terra embora acreditasse que a terra fosse o centro do universo: “Outro testemunho disso [a figura esférica] é o dos fenômenos que captamos com nossos sentidos. Se não fosse assim, os eclipses da lua não mostrariam segmentos como o vemos. Por ocasião de suas fases mensais, assume todas as modalidades de secções (é seccionada pela reta, a convexa e a côncava); entretanto, durante os eclipses seu contorno é sempre uma linha curva. Daí, sendo a causa dos eclipses a interposição da Terra, é de se presumir que sua forma seja devida à forma da superfície terrestre, que é esférica”.[6] Para o grego Anaximandro, que vivia em Mileto, famoso centro da cultura jônica, o mundo é uma esfera em cujo centro se situa a Terra[7]. No modelo de Anaximandro a Terra era uma espécie de disco plano que flutuava no ar como uma rolha ao qual Pitágoras viria substituir por uma esfera concêntrica a outras esferas, sendo cada planeta, a lua e o sol dispostos em uma esfera cada um, o que totalizaria sete esferas em analogia à escala musical referindo-se à “harmonia das esferas”[8]. Arquimedes construiu dois planetários com partes móveis que foram levados à Roma após o saque de Siracusa e determinou que a superfícies de qualquer fluido em repouso é igual à superfície de uma esfera cujo centro é o mesmo que o da Terra, ou seja, a superfície dos oceanos não é plana.[9] Eratóstenes estimou com boa aproximação o raio terrestre. Para Aristóteles em seu livro Sobre os céus, a terra é esférica, pois tendo em vista sua tendência de se colocar no centro do universo ela deve se dispor de forma simétrica em torno deste ponto, tendo como estimativa para sua circunferência em torno de 45 milhas, cerca de 1,8 vezes o valor moderno. David Lindberg mostra que esta tese aristotélica é a que prevaleceu por toda a idade média, sendo um mito que os medievais acreditassem seriamente em sua planicidade. [10] A Geografia de Ptolomeu também descreve uma terra esférica assim como uma esfera armilar. A obra foi redescoberta pelo monge bizantino Maximus Planudes em 1295 e foi difundida pela Europa no século XIV.[11]
[1] AIROLA, Jorge Magasich; BEER, Jean Marc. América mágica, Rio de Janeiro: Paz e
terra, 2000, p. 21
[2] BOORSTIN, Daniel. Os
descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.97
[3] TATON, René. A ciência
antiga e medieval, tomo I, livro 2, Sâo Paulo:Difusão Europeia, 1959, p. 42;
SOUZA, José Cavalcante. Os pré socráticos: fragmentos, doxografia e comentários.
Coleção os pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1985, p. 360
[4] MONTANELLI, Indro.
História dos gregos, São Paulo:Ibrasa,1962, p. 189
[5] BOORSTIN, Daniel. Os
descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.275
[6] SOUZA, José Cavalcante.
Os pré socráticos: fragmentos, doxografia e comentários. Coleção os pensadores,
São Paulo: Abril Cultural, 1985, p. 307; BOORSTIN, Daniel. Os descobridores,
Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.98
[7] JAEGER, Werner.
Paideia, São Paulo:Ed. Herder, 1936, p.183
[8] MOSLEY, Michael.Uma
história da ciência. Rio de Janeiro:Zahar, 2011, p. 21
[9] STRATHERN, Paul. Arquimedes e a alavanca em 90 minutos, Rio de Janeiro: Zahar,
1998, p. 32, 50
[10] LINDBERG,
David C. The Beginnings of Western Science. University of Chicago Press. Edição
do Kindle. 2007, p.55
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