Segundo Giuseppe Albertoni: “Do ponto de vista histórico jurídico o termo feudalismo designa um conjunto de instituições que tem origem na alta Iade Média, qundo a partir da vassalagem franca se desenvolve uma forma de serviço que em breve assume características de tipo militar e que conjuga tradições jurídicas e militares romanas, germânicas e célticas. O feudalismo ganha corpo quando o serviço de vassalagem é reforçado com a concessão de um bem temporal (benefício/feudo). È o que acontece na época carolíngia, quando a vassalagem é utilizada como forma de ligação entre poderosos, determinando, consoante os casos, a coesão ou a fragmentação dos poderes”.[1] Georges Duby (figura) mostra que o feudalismo foi favorecido pelo enfraquecimento do Estado e a insegurança, assim como pela ruralização da economia com o fortalecimento dos laços de parentesco moral e vassalagem os quais já eram encontrados na sociedade galo romana assim como na primitiva Germânia: “os antepassados de Pepino e Carlos Magno utilizaram essa prática para estender sua influência à Austrásia; após a mudança de dinastia, tais usos foram introduzidos no sistema governamental”. [2] Marc Bloch observa que o termo feudo nos documentos medievais é usado para representar a troca de um bem por algum tipo de serviço, por exemplo a de um carpinteiro ou ourives que deviam por sua arte à disposição do senhor feudal. A ambiguidade no uso do termo persistiu durante muito tempo. No século XIII a França continuava a se referir a feudo de servidores senhoriais e de artesãos, sendo estes últimos denominados “francos” pois relativas a homens inteiramente livres. Alguns idiomas retém o significado fora de qualquer doação de terra mas retendo o sentido de pagamento de um salário como na Inglaterra que se refere aos honorários de médicos e advogados como fee[3]. Marc Bloch observa que o termo feudalismo usado como um estado de civilização e não simplesmente como um tipo de posse da terra data de um texto escrito por Boulavilliers publicado em 1727.[4] No início do século IX Carlos Magno dá nome aos novos meses em evocação ao ciclo do trabalho rural, o que conclui a ruralização do ocidente medieval[5]. Será somente no século XI que se observa o que se pode chamar de um “Renascimento Comercial” produzido a partir dos contatos de Veneza e Flandres com o exterior, retomando-se o crescimento urbano. Segundo Marc Bloch: “a partir do final do século XI, a classe artesã e a classe dos mercadores, que se haviam tornado mais numerosos e muito mais indispensáveis à vida de todos, afirmaram-se cada vez mais vigorosamente no contexto urbano, em especial a classe dos mercadores, pois a economia medieval, desde a grande renovação desses anos decisivos, foi sempre dominada, não pelo produtor, mas pelo comerciante”.[6] March Bloch chega a denominar de “idades feudais sucessivas” tão diferentes eram os modos de produção da Europa medieval do século XI em relação aos ciclos anteriores.[7]
[1] ALBERTONI, Giuseppe. O
feudalismo, In: ECO, Umberto. Idade média: bárbaros, cristãos e muçulmanos,
v.I, Portugal:Dom Quixote, 2010, p.205; NUNES, Ruy Afonso da Costa. História da
educação na idade média, Campinas:Kirion, 2018, p.63
[2] PERROY, Edouard. A idade média: preeminência das civilizações orientais, tomo
III, v. I, São Paulo: Difusão, 1974, p. 134
[3] BLOCH, Marc. A
sociedade feudal, Lisboa:Edições 70, 1982, p.192
[4] BLOCH, Marc. A
sociedade feudal, Lisboa:Edições 70, 1982, p.11
[5] LE GOFF, Jacques. A
civilização do Ocidente Medieval. Rio de Janeiro:Vozes, 2016, p. 168
[6] BLOCH, Marc. A
sociedade feudal, Lisboa:Edições 70, 1982, p.92
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